sábado, outubro 09, 2010

Cais Novo

O Inverno apressou-se a chegar, remetendo os dias de Verão - que foram poucos - para uma mera nota de rodapé. O mar, esse mar que é pai e padrasto, Deus e Diabo, sacudiu os alicerces da ilha e esmurrou as rochas negras que lhe tomaram o lugar quando a ilha nasceu. Um ilhéu desde cedo que se habitua a estas vicissitudes. Não há muralhas, por mais rijas que sejam, que resistam á fúria de um Atlântico embravecido e indomável.
O Cais Novo, que me é bastante querido e não tão novo como a designação o indica, ressentiu-se. É ele que ao longo destas mais de quatro décadas tem guardado a Calheta da fúria tremenda das ondas puxadas a nortada. Mais tarde ou mais cedo, depois do sal se lhe ter entranhado no betão bruto que lhe deu forma, de o mar o ter agredido por 40 invernos, este velhote havia de ceder. Foi hoje. Nada que não possa cicatrizar a tempo de enfrentar novos invernos e continuar, discreto mas robusto, a suportar a ira de Neptuno.









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quarta-feira, outubro 06, 2010

Viajar: Onde Portugal começa.

Portugal começa aqui, na metade do rio Minho que nos coube nas partições de fronteiras. Na outra margem, a Galiza irmã, parida da mesma barriga que pariu o Minho.
Ao longo da margem ídilica do rio, desde Caminha, passando por Vila Nova de Cerveira, Valença e Monção (onde me detive nesta deambulação), uma série de muralhas rasgadas por canhoneiras ferozes afrontam a outra margem, essa Espanha que sempre nos meteu medo e onde se vislumbram muralhas iguais, envergonhadas no meio da vegetação. Hoje resta um rio - não há nada que possa anular essa fonteira - um Minho verde e sereno, de quando em vez agreste e que queremos mais nosso do que dos Espanhóis.  

domingo, outubro 03, 2010

Hortênsias...

A Hortênsia, não sendo um endemismo Açoriano, impôs-se nas últimas décadas como imagem de marca das 9 ilhas. Ainda que dê um pitoresco colorido aos pastos verdes do arquipélago, trata-se de uma planta invasora, á semelhança de tantas outras que ocuparam o lugar da flora nativa da região. Na Graciosa, mercê de condições adversas, a Hortênsia reduz-se a pequenos apontamentos que pontuam alguns caminhos, como o do Monte d´Ajuda.
Ironia: a Graciosa, que ainda se conserva livre desta praga que atormenta os agricultores das outras ilhas, acha-se quase totalmente desprovida desse pretenso símbolo turístico do Arquipélago, facto que vem a causar alguma estranheza aos turistas. E acaba sempre por ser dificil explicar-lhes que estas flores azuis ou cor de rosa, são uma praga estrangeira e nada tem de Açoriano, a não ser na cabeça da pessoa que elaborou o famoso logótipo.