sábado, outubro 29, 2011

(...) desabafo...

Este ano passei mais tempo longe da Graciosa do que o que estava habituado. Já lá vão 10 meses. Sim, eu sei que não é nada. Habituei-me à distância, às visita esporádicas e curtas a casa aquando das férias. Este ano nem o indolente mês de Agosto me salvou. Agora conto os dias para Dezembro, esse Dezembro de reencontros com a Família e os Amigos, à volta do presépio e de uma garrafa de aguardente velha.

Sinto falta da Graciosa, claro,  mas o que ás vezes parece que me asfixia é a falta do mar. Esse mar que é metade de mim e parte de cada Homem insular. Valeu-me uma escapadela de poucos dias à costa e à praia, mas lá fui encontrar um azul tão diferente do que sempre conheci e as saudades parece que se tornaram maiores.

Um homem das ilhas habitua-se a tudo, menos á ausência desse mar, que nos embala no berço e nos cobre no túmulo, esse atlântico açoriano que nos faz tanta falta como um coração ou uns pulmões. Enfim, agora que releio este texto, não vejo nexo nestas palavras, mas já que este blog anda meio abandonado, publico-as em jeito de desabafo. 

sábado, outubro 08, 2011

O amarelo-torrado do desespero

Vi há pouco tempo um mapa da Graciosa onde estavam assinaladas a várias cores as áreas urbanas e sociais, as áreas agrícolas e as áreas florestais. Chamou-me a atenção a cor que assinalava as áreas incultas e que correspondiam, grosso modo, ás vinhas antigas da plataforma Noroeste entre o Barro Vermelho e a Ponta da Barca e entre o Porto Afonso e a Ribeirinha.

As gentes de outrora souberam tirar o melhor partido deste solos pobres e ressequidos onde aflora o basalto, destinando-os a uma das poucas plantações que poderia vingar onde a terra é madrasta. Do pouco fizeram muito e em tempos não muito recuados, a Vinha aqui plantada, abrigada pela esquadria monótona dos currais, era o sustento de dezenas de famílias e constituía-se como uma das principais produções da Ilha Branca.

Entretanto vieram as maleitas da vinha. Construiu-se o aeroporto que arrasou hectares e hectares de currais. Veio a Europa e as suas directrizes. As mãos que sabiam podar e enxertar e cavar, envelheceram. Em poucos anos o que foi uma área agrícola de grande potencial, tornou-se baldio, uma mancha irregular amarelo-torrado num mapa. A perseverança das gentes antigas, que com o seu pragmatismo empírico fez brotar das rochas estéreis o ganha-pão de uma vida, perdeu-se.

Hoje é difícil descortinar um caminho a seguir quando os passos que se dão são maiores do que as pernas, quando as necessidades de ontem, não serão as mesmas de amanhã, mas parece-me que poucos se importarão quando a ultima videira desaparecer destas terras queimadas e esse amarelo-torrado inculto, de uma mapa estatístico, abarcar uma porção maior da ilha.