domingo, março 23, 2008

Feios, Porcos e Maus


Revi hoje um dos mais brilhantes filmes da história do cinema, "Feios, Porcos e Maus" do italiano Ettore Scola. A sua genialidade está na sua intemporalidade, daqui a muitas décadas continuará actual, tal como a miséria, a avareza, o egoísmo e a violência que tão bem retrata...

sábado, março 22, 2008

Qual Veneno?

(…) Toda a pessoa de qualquer qualidade que seja desta Vila e sua jurisdição será obrigada a trazer ou mandar a casa do escrivão desta Câmara por todo o mês de Dezembro de cada ano doze rabos de rato e seis bicos e cabeças de pássaros daqueles que são daninhos aos frutos da terra como são estanjaras, canários, e melros; e o que faltar a esta postura pagará de pena cada casal, digo, cada cabeça de casal quinhentos reis para o concelho e acusador."

Posturas Camarárias da Vila de Santa Cruz da Graciosa – 1784 (Adaptado)

domingo, março 16, 2008

Mares

Ontem vim até à costa, ver o mar, cheirar a maresia. Este ano ainda não lhe tinha posto a vista em cima. O meu horizonte tem terminado já ali, desenhando-se irregular a castanho e verde, nada de azul. Sou um náufrago por entre montes e monte e montes e montes. Sendo mar, este não é o meu mar, não é o Atlântico que conheço e adoro. Sinto uma falta tremenda do mar bravo, das ondas a troar como canhões quando se despedaçam na rocha negra ou quando morrem sobre si mesmas, falta-me aquele sal que nos açoita o corpo e come a carne em dias de invernagem. O Atlântico zangado abala os pilares da ilha, sacode-a como a um barco! Só quem mora numa ilha pequena sabe o que isso é...

sexta-feira, março 14, 2008

Ah esta terra!


O vale do Douro impressiona visto de qualquer ângulo, mesmo ao longe sabemos onde ele está, é a maior cicatriz numa terra bastante cicatrizada. Cicatrizes que não saram e que acentuam a seca rudeza da paisagem (ou será o contrário?).

O monte de São Gabriel, perto de Vila Nova de Foz Côa, ergue-se arrogante sobre a terra duriense. Lá em cima, ao pé da capelinha alva, esmaga-nos uma imensidão de silêncio até onde a vista alcança. É o silêncio que escora estas pedras que parecem insuportáveis no cocuruto dos montes; é o silêncio que pinta de azul esbatido este céu, e de amarelo esta terra. Calo-me e o silêncio da paisagem grita-me...

quinta-feira, março 13, 2008

ezequiel valadas

Passos maiores que as pernas...

Contava-me uma colega sobre um "excelentissimo senhor presidente" de uma cidade do interior que teve a ideia de anunciar num discurso no dia da principal festa do concelho a apresentação de uma candidatura a Património da Humanidade. Os vereadores atrás dele aplaudiram, a multidão que o ouvia gritou vivas. "E em breve" - prosseguiu o presidente depois de se fazer silêncio "constituiremos um grupo de trabalho para avaliar o que temos no concelho passivel de ser apresentado numa candidatura à UNESCO". Além da Casa Grande dos Condes, de três ou quatro chafarizes antigos e um arruinado castelo medieval não tinham mais nada, mas nem o que tinham possuía interesse que justificasse a classificação da UNESCO. A intenção não passou disso mesmo...
Por este pequenino Portugal fora o que não falta são excelentissimos senhores presidentes empenhados em dar passos maior do que as pernas. Todos nós somos potenciais Ezequiéis Valadas...