terça-feira, fevereiro 11, 2014

Fala do Homem Nascido (António Gedeão. Teatro do Mundo, 1958)


Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe;
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.

Trago boca para comer
E olhos para desejar.

Com licença, quero passar,
Tenho pressa de viver.

Com licença! Com licença!
Que a Vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
Não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao Norte;
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.

Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham,
Nem forças que me molestem,
Correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
Que a Natureza sou eu,
E as forças da Natureza
Nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.

Com licença! Com licença!

Com rumo à estrela polar!

sábado, fevereiro 08, 2014

Fotografias da Graciosa


"Devo explicar que todas as ilhas têm uma nuvem sua, uma nuvem própria, independente das outras nuvens e do céu, e com uma vida à parte no universo."

Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas