sexta-feira, novembro 23, 2007

A Praia (parte I)

A Praia foi a primeira povoação que se fez na Graciosa, beneficiando desde logo da sua posição geográfica e de um excelente desembarcadouro sob a forma de um areal que nos inicios da década de 60 do século XV seria decerto muito mais extenso do que hoje. Em pouco tempo surgiram as primeiras casas e os primeiros caminhos em redor da pequena ermida de São Mateus, então bastante diferente da que hoje conhecemos.
Espalhados pelo interior e derramando-se pelo litoral começaram a surgir outros pequenos núcleos de povoamento, dos quais a Praia parecia destinada a tornar-se capital. A chegada do primeiro Capitão do Donatário alterou o que parecia já uma certeza e ele preferiu estabelecer a sede da sua capitania na outra banda da ilha. Assim nasceu Santa Cruz. Não é dificil de acreditar que a rivalidade entre as duas localidades remonte a esses séculos já longinquos.
A Praia, ainda que dotada de boas condições geográficas encontrava-se estrangulada por algumas das terras mais difíceis da ilha, entre o "salão" da Caldeira e os "biscoitos" formados pela lava do pico Timão. As suas capacidades agrícolas, aos contrário de Santa Cruz, pareciam bastante limitadas.
A 1 de Abril de 1546 D. João III eleva a Praia a Vila em virtude dos seus moradores se acharem prejudicados em relação a Santa Cruz. A nova circunscrição abrangia também o que é hoje a freguesia da Luz.
"Querendo fazer graça e mercê aos moradores do dito lugar da Praia, eu por meu moto próprio faço o dito lugar vila, e eis por bem que daqui em diante para sempre o seja e se chame vila da Praia, e aparto e desmembro da vila de Santa Cruz e de sua jurisdição de que até agora foi e lhe dou e concedo o termo seguinte, a saber: toda a freguesia da dita vila, que é da cruz do Quitadouro e daí pelo espigão do grotão da serra da Irmida contra a vila ao mais alto da dita serra, e daí direito ao castelete, que é na rocha do mar, e daí á roda do mar até tornar á dita cruz do Quitadouro (...) e assim eis por bem e me apraz que daqui em diante a dita vila da Praia e moradores dela e do dito termo não sejam obrigados a obedecer á dita vila da Santa Cruz. (...) e os moradores da dita vila da Praia poderão levantar e pôr forca e pelourinho e ter bandeira e selo e as outras insignías que tem as outras vilas de meus reinos (...)."
in Arquivo Nacional, Chancelaria de D.João III, livro 43, folha 25 v (adaptado)

quarta-feira, novembro 21, 2007

A propósito...

Em 1883 Canto moniz escrevia na sua Descripção Histórica e Topographica da Ilha Graciosa que a criação de gado bovino era bastante limitada por falta de pastagens. Não foram precisos 100 anos para que este quadro se alterasse radicalmente, a "monocultura da vaca" monopolizou a economia de uma ilha cuja produção de cereais, vinho e aguardente rivalizava noutras centúrias com as ilhas maiores.
Há 60 anos os pastos eram raros, tampouco os cerrados de milho, então em poucas décadas as espigas douradas de trigo deram lugar a um tapete verde de trevo e luzerna, destruiram-se vinhas inteiras para semear milho e as vacas passaram a ser mais do que as gentes.
As vinhas, os pomares e as hortas que ainda hoje se cultivam são resquicíos de um passado que por este andar será trucidado pelos tractores e pick-up´s comprados com os subsidios de Bruxelas. Mas as "vacas subsidiadas" são também elas efémeras; os criadores terão mais cedo ou mais tarde de comtemplar outro meio de subsistência... mas como dizia um velhote que conheci no Alto Douro, se o governo desse subsidio para coqueiros, até isso ele tratava de plantar.

terça-feira, novembro 20, 2007

Hoje

"(...) fomos então para o gado. E a nossa ilha está - como é que hei-de dizer - apareceu num estado, que talvez não seja para a gente dizer, miserável (....). Os pastos não se mondam, não se cortam as silvas, não se corta nada e está-se a encher a pastagem de monda (...). Não semeamos trigo, não semeamos nada e o gado a esticar. Será o fim de nós? "
Testemunho de António Maria da Cunha registado por Almeida Langhans em 1981

Ontem

Foto de António Brum Ferreira

"O terreno da ilha Graciosa não pode ser levado a maior cultivo: todo elle com pequenas excepções se acha agricultado(...)"

Félix José da Costa, 1845

quinta-feira, novembro 08, 2007

What the f*ck!?...

Não deixa de ser irónico que um edifício que pretende ser um guardião da nossa memória colectiva de Graciosenses seja um OVNI que nada tem a ver com as nossas raízes...