terça-feira, dezembro 12, 2006

Lembram-se?

Foto de António de Brum Ferreira
É dificil reconhecer a Caldeira de hoje em dia nesta fotografia tirada em ínicios da década de 60. Só nessa altura se começaram a plantar criptomérias nas vertentes nuas desta cratera... Nos dias de hoje é dificil imaginar a Caldeira sem aquele verde que nos ofusca e anula qualquer outra cor...

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Memória de pedra - os fornos de telha

Foto do livro "Arquitectura Popular dos Açores"

Os fornos de telha foram durante décadas a principal indústria da Graciosa, uma actividade de capital importância para a economia de uma ilha que sempre subsistiu dos dividendos da agricultura e da pecuária; muita da telha era exportada para o grupo central durante o verão nos velhos iates de cabotagem como o Fernão de Magalhães e o Espírito Santo.
A eira da Rochela (na foto) foi uma das ultimas a produzir telha e fechou na década de 80. O caminho que conduz ao porto, então em construçã0, rasgou-a e destruiu algumas das estruturas de apoio ao trabalho dos telheiros.
Hoje em dia os fornos de telha, dos quais todos nós já dependemos, encontram-se esquecidos.... situação lamentável pois são parte da nossa memória colectiva...Numa época em que tudo é passível de ser musealizado ou integrado em acervos etnográficos, para quando musealizar pelo menos um dos fornos da Rochela, ali tão perto de uma das principais portas de entrada na ilha Branca ?

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Farol da Ponta da Barca



Era no Pico Negro que o Plano Geral, aprovado em 1883, projectava a construção de um farol na Ilha Graciosa no entanto acabaria por optar-se pela construção do farol na Ponta da Barca, um pouco mais para Oeste do inicialmente projectado e, uns anos mais tarde.A escolha deste novo local terá facilitado em muito a construção do farol, embora com o senão da existência de sectores em que a interposição do Pico Negro não permite a observação visual do Farol.O farol da Ponta da Barca entrou em funcionamento em 1 de Fevereiro de 1930 e está localizado na Ponta da Barca a Noroeste da Ilha Graciosa.Em 1978 uma forte trovoada fez grandes estragos no farol e respectivas habitações. Tratando-se, actualmente, da torre mais alta do Arquipélago dos Açores e encontrando-se numa zona muito exposta, tem sido periodicamente objecto de obras de recuperação de alguma dimensão, a última já nos anos oitenta.
In, Revista da Armada nº392 de Dezembro de 2005

Pico Negro

O pico Negro não pertence ao mar nem pertence à terra, é um meio termo, um barco ancorado na ponta da ilha (na Ponta da Barca) à séculos, um ponto final deste texto escrito a muitas mãos chamado Graciosa...
Visto de longe lembra uma pirâmide mal desenhada, pintada a negro e ocre, posta ali por engano. De perto atemoriza, as suas vertentes calcinadas pelo fogo vulcânico insistem em lembrar-nos a verdadeira natureza desta terra.
O pico Negro, situado pouco depois do Barro Vermelho na freguesia de Santa Cruz, é o que resta de duas chaminés de um complexo aparelho vulcânico, mas ao invés do que acontece com outros picos e montes por esta ilha fora (também eles restos de chaminés e crateras), nunca desenvolveu uma camada humosa relevante, esteve sempre despido de terra. O que hoje vemos são os piroclastos cuspidos pelo vulcão e queimados pela fúria ígnea da Terra... Esta paisagem um tanto ou quanto dramática é acentuada pelos salgueiros mirrados plantados há décadas na encosta virada para a ilha.
O pico parece que foi cuspido da entranhas da terra há pouco tempo, talvez tenha sido por medo que as gentes da ilha nunca se interessaram muito por este lugar, uma unica casa habitada entre uma ou outra ruína... A sua silhueta impõem- se sobre aquela paisagem bucólica, vislumbramo-lo ao longe quer estejamos no Guadalupe quer estejamos no Monte d`Ajuda e ao seguir pelo estrada que lhe passa no sopé (na realidade passa na meia encosta) tornamo-nos pequenos e humildes perante aqueles contornos agressivos (se este pico fosse gente estaria sempre de punhos erguidos para nos esmurrar). Se pararmos um pouco e nos embrenharmos por um carreiro largo entre os salgueiros, podemos ver o pico Negro em toda a sua imponência, despenhando-se em algazarra nas águas do Atlântico, 100 metros abaixo. Sigo outro carreiro que desce serpenteante pela cratera e leva-nos até á água, não é qualquer um que o desce, a bagaçina no qual foi talhado insiste em rolar debaixo dos pés, uma ou outra pedra desprende-se uns metros acima e passa sobre a minha cabeça. Olho para cima e o pico vigia-me, quer abater-se sobre mim. No topo, cada vez mais distante ergue-se uma discreta vigia da baleia (um dia hei-de lá subir). Na outra cratera , a caldeirinha, existe outro carreiro, cortado a pique na encosta, muito pior que este que agora subo outra vez, só o desci uma vez, (nunca mais...). É perto ou longe uma presença perturbante, seja como for é o pico Negro o primeiro que me recebe quando aterro no aeroporto, com um sorriso... há-se estar sempre ali, como sempre esteve desde que a ilha tem memória...

terça-feira, dezembro 05, 2006

Porque é!


"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia."
Alberto Caeiro

A minha terra,é, (É!) a mais bonita do mundo...

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Fronteiras e fronteiras


Longe vão os tempos em que as excursões se faziam dentro da ilha, de burro ou a cavalo e ir de Santa Cruz à Caldeira era aquela viagem planeada antecipadamente... Poucos de nós ainda se lembram desses tempos.
As gentes da Graciosa desde cedo foram condicionadas; Nem tanto pela orografia do território mas mais pela mentalidade de ilhéus, de pessoas apegadas ao seu quinhão de terra, (ao seu cerrado, ao seu pasto, à rua do porcos, à casa) enquanto o tiverem não precisam de procurar outro, nem sequer precisam de ir além dos limites da sua freguesia. Lembro-me de me contarem a história de um homem do Guadalupe que nasceu, viveu e morreu sem nunca ter saído de lá, nunca passou a Serra Dormida ou veio até Santa Cruz, toda as suas deambulaç~ioes se resumiram a 15 Km 2...
Antigamente as fronteiras dentro da ilha, ainda que fossem traços negros sobre um mapa, eram mais fortes do que a fronteira real vincada a basalto e Atlântico em redor destes Homens.