domingo, janeiro 06, 2008

Inverno

Detestava o inverno insular; a chuva rude e mal educada,o vento em brados e gritarias demoniacas, o céu escuro prestes a esmurrar-nos, o mar a despedaçar o nosso pequeno barco de basalto... Detestava esse inverno feito de mar bravo, de árvores vestidas de cores fùnebres. Só o prazer de ficar em casa, quente, confortável e abrigado do temporal que nos revirava as telhas podia compensar um inverno açoriano, talvez até todos os invernos do mundo... Hoje o inverno da minha ilha é uma boa recordação, passado alguns anos desde que saí daí a memória tratou de sublimar esses meses de invernagem, quase como se todos os dias de inverno fossem dias de sol e céu azul. Agora decidi detestar o inverno transmontano; aqui neste Portugal de serranias e fragas, neste "reino maravilhoso" de Torga, tudo é inverno, um funeral que dura meses (cá se diz: 9 meses de inverno e 3 meses de inferno), os ossos gelam-me e a carne, anestesiada pelos graus negativos, emudece com dores. O Marão sorri-nos complacentemente (ou será escárnio?) sempre que o transpômos para este lado, abraça-nos com a geada e com a neve, um açoreano passa bem sem estas demonstrações de afecto... Dêem-me o inverno da minha Graciosa, isto já é inverno a mais...

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