terça-feira, setembro 15, 2009

Porto Afonso





Ou Afonso do Porto, por estas terras queimadas terem sido pertença de alguém com esse nome e essa origem. O Porto Afonso é um dos sítios mais extraordinários da Graciosa. E em dias de bom tempo, o mais bonito. É metade mar, metade rocha calcinada pelo vulcão. Esculpido pelo vento, pela água e pelos Homens, pintado em tons de vermelho e negro vulcânico. Não é difícil aqui chegar, de carro, de bicicleta ou a pé. Às vezes é difícil é daqui sair.

Esta baía recôndita, de águas transparentes, domínio de garajaus que enchem o céu nos dias de verão, possui um pequeno cais e uma dezena de abrigos para os barcos, escavados na bagaça da falésia. A falésia, a pique sobre a baía, é imponente e ameaçadora. As pedras que se soltam desta parede e caem cá em baixo assustam e podem aleijar. Essa é uma das razões para a maior parte dos abrigos terem sido abandonados. Dentro destes túmulos, apodrecem os esqueletos de velhos barcos de boca aberta, ladeados por um espólio poeirento de caixas, redes e canas de pesca, memórias de um passado cada vez mais distante.

Ao longe, os contornos bem definidos de São Jorge, desenham-se sobre o Atlântico azul. Quase que poderíamos lá chegar a nado. Mais perto, a Ponta Branca e o fim da terra. Imagino esta baía abrigo de piratas, que sulcavam estes mares em busca de presa fácil.
Não é difícil imaginar que aqui tenham aportado, resguardados da nortada e longe da boca dos canhões que guardavam a costa, fazendo contas à vida e engendrando outras piratarias.

Todos os anos, pelo dia de Maio, a família enroscava-se por debaixo das arribas, então risonhas, um grande farnel e por ali ficávamos. Não sei se ainda hoje há muita gente a fazer isso naquele lugar, que sempre que lá vou, me parece abandonado de séculos. Mas o estar vazio de vida, á excepção dos garajaus, das gaivotas e das cagarras, realça este quadro de encanto. Porto Afonso…

1 comentário:

Anónimo disse...

Não poderia dizer melhor Robinson. É sem dúvida o lugar mais bonito desta ilha Graciosa. Lugar que gosto de visitar e onde muitas vezes lá vou para descontrair e abstrair-me de tudo.