sábado, outubro 08, 2011

O amarelo-torrado do desespero

Vi há pouco tempo um mapa da Graciosa onde estavam assinaladas a várias cores as áreas urbanas e sociais, as áreas agrícolas e as áreas florestais. Chamou-me a atenção a cor que assinalava as áreas incultas e que correspondiam, grosso modo, ás vinhas antigas da plataforma Noroeste entre o Barro Vermelho e a Ponta da Barca e entre o Porto Afonso e a Ribeirinha.

As gentes de outrora souberam tirar o melhor partido deste solos pobres e ressequidos onde aflora o basalto, destinando-os a uma das poucas plantações que poderia vingar onde a terra é madrasta. Do pouco fizeram muito e em tempos não muito recuados, a Vinha aqui plantada, abrigada pela esquadria monótona dos currais, era o sustento de dezenas de famílias e constituía-se como uma das principais produções da Ilha Branca.

Entretanto vieram as maleitas da vinha. Construiu-se o aeroporto que arrasou hectares e hectares de currais. Veio a Europa e as suas directrizes. As mãos que sabiam podar e enxertar e cavar, envelheceram. Em poucos anos o que foi uma área agrícola de grande potencial, tornou-se baldio, uma mancha irregular amarelo-torrado num mapa. A perseverança das gentes antigas, que com o seu pragmatismo empírico fez brotar das rochas estéreis o ganha-pão de uma vida, perdeu-se.

Hoje é difícil descortinar um caminho a seguir quando os passos que se dão são maiores do que as pernas, quando as necessidades de ontem, não serão as mesmas de amanhã, mas parece-me que poucos se importarão quando a ultima videira desaparecer destas terras queimadas e esse amarelo-torrado inculto, de uma mapa estatístico, abarcar uma porção maior da ilha.

2 comentários:

Manuel Bettencourt disse...

Excelente reflexão, por vezes também penso ser triste ver uma área tão grande ao abandono.
Já agora permita-me que humildemente lhe diga que sou seu fã, admiro a forma como escreve, gostava de ter essa sua capacidade e sabedoria, Parabens.
Um Abraço
Manuel

Anónimo disse...

A minha modéstia agradece o elogio, amigo Manuel! Sou um leitor bastante assíduo do seu blogue, pelo qual o felicito, esperando que continue com esse excelente trabalho! Abraço, Robinson