domingo, março 04, 2012

A Biblioteca Itinerante


De duas em duas semanas, a velha Citroên cor de tijolo do serviço de Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, parava na minha rua. Recordo-me com saudade das estantes em madeira onde os livros nos esperavam, de folhear as páginas gastas onde viviam histórias de cavaleiros e vilões, onde cabiam o Cabo da Boa Esperança e a Lua, onde Alexandre o Grande se passeava com Dinossauros e Tarzan dormia ali, aninhado entre os álbuns do Astérix e o Dicionário de Português. E tudo isto cabia dentro de uma velha carrinha.
A biblioteca itinerante era a forma mais simples que eu tinha de chegar até aos livros e foram essas primeiras letras, tão inocentes e já tão distantes, que me despertaram a vontade da leitura. Do Lucky Luke a Jorge Luis Borges é um passo. 
Não sei se a Biblioteca ainda percorre a ilha, ou se ainda existem miúdos que se percam entre as páginas de um livro. Naquela altura, em que o horizonte da ilha acabava já ali, onde os computadores eram raros e a internet uma miragem, onde na televisão só havia um canal, o mundo todo, maior do que é hoje, cabia nas linhas de um livro. Magia.
Tenho saudades desses tempos e daquela Citroên.   

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