sábado, maio 24, 2008

Monte de Nossa Senhora da Ajuda

Santa Cruz aninhou-se no sopé do Monte d´Ajuda, guardião silencioso do casario branco da vila, coroado por três capelinhas que resistem ao esquecimento.
Há algo neste quadro que me lembra a Pompeia romana, espraiando-se indolentemente nas encostas do Vesúvio, desconhecendo de todo a sua verdadeira natureza. Mas Pompeia é longe…

Santa Cruz derramou-se por sobre o magma solidificado cuspido das entranhas da terra pela boca deste pico de contornos femininos, mas rudemente masculino na sua essência vulcânica. Desde a Pesqueira até quase ao Barro Vermelho são pedras vomitadas por alguma erupção deste Monte d´Ajuda quando ainda nem havia História. No Charco da Cruz, paralelo ao caminho, para Norte, ainda se sente o declive criado por uma infernal escoada de rocha incandescente. As ervas e as árvores e depois os Homens tomaram conta da rocha viva. Do Monte que a pariu também.
Chamaram-lhe Monte das Violas, foi cultivado, abriram-se caminhos e fizeram-se muros de pedra negra. No cocuruto construíram uma igreja, depois outra e depois outra e mudaram-lhe o nome. Na caldeira que foi inferno ergueram uma praça de toiros (não há-de faltar engenho a esta gente). As árvores voltaram a vestir o monte.

Hoje é um belo passeio, desde a beira dos pauis até lá acima, 200 e poucos metros de altitude que se devem subir devagarinho, à sombra do arvoredo, descansar um pouco quando se chega á primeira cruz. Existem mais duas lá mais em cima, junto á igreja. Dizem que esta foi posta aqui para que aqueles que iam em romaria e não conseguiam chegar à igreja, pudessem rezar neste lugar. Sobe-se o caminho que falta e descortina-se uma porção da ilha. O pico Negro, lá ao fundo é ponto final. A Terra do Conde, a Brasileira, a Beira Mar e o Calhau Miúdo, mudos. Atrás de nós a Serra das Fontes, vetusta. Santa Cruz e a Barra a pique sobre os nossos pés, o Monte vai cair sobre elas. Há uns quantos carreiros, rasgados no declive e escondidos pela vegetação que convidam à deambulação. Santa Cruz não poderia ter melhor jardim, ainda que pudesse ser melhor aproveitado. Agora custa é descer…

Sem comentários: