quarta-feira, agosto 20, 2008

Vidas de Trabalho


Não é difícil imaginar o que foi a Graciosa há dois ou três séculos atrás, antes da quebra de produção que se começou a notar a partir dos anos de 1800. Esta ilha era um campo cultivado quase na sua totalidade como o atestam os relatos da época. Desde as vinhas no Pico Negro, passando pelas searas no Guadalupe e os pomares e quintais da Luz, de tudo as gentes da Graciosa cultivavam, não apenas para provir ao seu sustento mas sobretudo para a exportar. Aqui os números espantam-nos. A Graciosa produzia e exportava quase tanto como as ilhas maiores do arquipélago.

Os Graciosenses tiravam o máximo proveito destes parcos 62 Km2, não havia terra que não desse o seu proveito, até mesmo os cocurutos dos picos. Imagine-se as mãos necessárias a este árduo labor. Milhares. No século XVIII a Graciosa sofria de excesso de população, existiam mais de 10 000 almas a partilhar o quotidiano neste espaço bastante limitado. Pobres eram mais que muitos, vivendo em casas exíguas (muitas ainda cobertas com colmo ou cana), dispersas ao longo dos caminhos, penetrando no campo, acompanhando os cerrados e as vinhas. Os trabalhadores rurais que constituíam a maior parte da população da ilha possuíam um ou outro alqueire de terra de onde tiravam o seu sustento. A maior parte da terra era pertença de poucos, a quem os trabalhadores pagavam rendas, muitas vezes elevadas e com quem trabalhavam à jorna. Labutavam de sol a sol. As rixas por questões relacionadas com a posse da terra seriam relativamente frequentes numa ilha com elevada densidade populacional. Houve quem se queixasse deste clima de tensão e insegurança e pedisse que fossem tomadas medidas, de facto pouco podia ser feito e nem a tentativa de aliviar a carga populacional com a saída de uns quantos casais para as terras do Brasil surtiu algum efeito.

As festas de verão seriam esperadas com particular entusiasmo. Não é difícil imaginar a chiadeira dos carros de bois nos caminhos que conduziam á Beira Mar da Vitória ou à Luz nos dias das respectivas festas. Mais do que tudo era uma fuga á monotonia do quotidiano e a vidas cinzentas, para no dia seguinte voltar à mesma labuta.

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