segunda-feira, novembro 01, 2010

Viajar: Planalto Mirandês

Sendim. Sobre a lareira do restaurante, o retrato da velhinha Ti´Gabriela, sorridente e barbada, abençoa-nos a refeição. Na mesa, um naco de carne maior do que tudo o que comi até hoje, esvai-se em sangue. Pego no garfo e na faca. Vai dar luta. Chamam-lhe Posta Mirandesa e segundo a tradição foi a velha senhora do retrato que a refinou e a deu conhecer ao resto de Portugal.

O planalto mirandês é terra de Homens duros. Só sendo duro se consegue deglutir este manjar. Eu fico-me por metade. A posta é apenas uma das singularidades desta terra Transmontana que evoluiu arredada do resto de Portugal. As terras de Miranda cheiram a ancestralidade, a costumes que se perderam no resto do mundo mas que aqui sobrevivem com alguma pujança. A língua Mirandesa é exemplo paradigmático. Não é que se ouça nas ruas, mas de quando em vez chegam-nos aos ouvidos palavras desse dialecto arcaico, mescla das duas línguas ibéricas. Na música, a gaita de foles mirandesa, constitui-se como símbolo máximo desta terra. E os pauliteiros, que na dança perpetuam a memória dos guerreiros que por aqui se digladiaram.

Perdi-me nestas terras antigas que pontuam o planalto, Sendim, Palaçoulo, Duas Igrejas, Constantim, Prado Gatão, Miranda do Douro, Mogadouro, entre outras cujos nomes não me ocorrem mas que resistem orgulhosas na sua diferença, cunho de uma identidade milenar profundamente telúrica e avessa a estandardizações. E nós que nos deixamos enfeitiçar por reminiscências de mundos perdidos que vivem nos documentários e no cinema, desconhecemos que temos aqui tão perto esse mundo maravilhoso.

A minha estadia foi curta, mas fiquei fascinado por esta região, onde se chega a custo por estradas velhas e sinuosas e que, de algum modo, ajudaram a preservar esse recanto ancestral da nossa memória, o Portugal mais profundo e verdadeiro.








3 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia,

É para mim muito agradável logo pela manhã poder ler palavras tão agradáveis sobre a minha terra, Miranda do Douro.

Se quiserem saber mais vão a www.mirandadodouro.com.pt

sejam bem vindos,
Raúl Silva

Anónimo disse...

É de facto uma terra excepcional, como poucas em Portugal. Os 4 meses que me demorei por lá souberam a pouco.
Obrigado pelo link.

Cumprimentos,
Ilha Branca

Ana disse...

Miranda com as suas capas ;)