Tenho vagas lembranças, porque era moço de pouca idade, da primeira vez que a RTP-Açores passou a série Pedras Brancas; a familia reunia-se em volta da televisão depois do jantar, mesmerizados pelas imagens de uma ilha que, embora conhecessem à muito, parecia surgir agora no ecrã do nosso velhinho televisor com outros contornos... Só quando o canal regional passou uma reposição da série há uns anos atrás é que me apercebi do real valor daquelas imagens que nessa altura já acusavam o passar dos anos (mas tanto melhor...)
Pedras Brancas, rodada em ínicios dos anos 80 no lugar com o mesmo nome, acompanha o quotidiano de uma humilde familia de lavradores Graciosenses durante várias fases de um ano, como por exemplo a matança do porco, os trabalhos na terra, as vindimas, as festas e procissões. Pelo meio aborda, às vezes quase imperceptivelmente, uma série se outros assuntos como a emigração, a pobreza e a morte. A melhor palavra para definir Pedras Brancas é documentário; as situações que nos apresenta não são ficcionadas, não existem personagens, apenas pessoas. E são pessoas que se cansam, que se sujam e suam, que falam com sotaque e usam roupas com remendos, são pessoas que ilustram o que foi uma Graciosa de outros tempos e cujos rostos já começamos a esquecer...
Pedras Brancas, mais do que qualquer livro que se possa escrever, é um valioso testemunho etnográfico, etnológico e sociológico de uma ilha rural, onde já se adivinhavam mudanças radicais, mas que permanecia na sua essência igual ao que sempre fora desde que os homens a povoaram. Talvez seja o mais bonito tributo que fizeram a esta ilha, alva como essas pedras, e hoje bastante diferente...
P.S há quem prefira a Ilha dos Amores com o seu visual clean. Eu prefiro as pessoas com terra debaixo das unhas de Pedras Brancas... Os Açores são assim.