segunda-feira, setembro 15, 2014
segunda-feira, julho 21, 2014
Andanças (Ou: isto não é um blog sobre viagens, mas...)
Fim da tarde e a
Giralda veste-se de sombras e luz. A cidade acorda da siesta e aqui, no bairro
de Santa Cruz, as esplanadas enchem-se de gente. Comem tapas e bebem cerveja, sob
as copas floridas das laranjeiras que nascem compassadas nos passeios, enquanto ao
fundo da rua um coro de pequenas sevillanas
de voz quebrada, trauteia Camarón.
Guardei o mapa, perdi-me e acabei por encontrar a felicidade pura num pátio
de Sevilla, a cidade que é uma jóia, forjada por quase todas as culturas que
puseram pé neste extremo da Europa, um cadinho onde se fundiram árabes,
cristãos e judeus, onde coube o velho mundo e o novo mundo. Alguém escreveu
(Hemingway?) que o que mais o irritava nos Sevilhanos era gabarem-se
constantemente de viverem na cidade mais bonita do mundo. Fora isso, eram bem
capazes de ter razão.
(Sevilla, Abril de 2014. A primeira vez que cá vim, era um turista. Cinco visitas depois, sinto-me em casa)
quarta-feira, julho 16, 2014
Andanças
Alto-Douro. É sempre bom rever, mesmo que só por dois dias, um amor de 12 anos, uma terra de gente grande e boa, de paisagens gigantes e de um rio que é um mundo.
domingo, março 16, 2014
casas
A
casa morreu de solidão e apodreceu como um esqueleto, carcomido pela salitre e
pelo caruncho, amortalhado em teias de aranha e pó de abandono. A velha chaminé
de mãos postas é uma suplica e as telhas reviram-se em agonia quando puxa a
nortada. A sua última habitante, minha avó, morreu numa manhã cinzenta de Maio
e a casa começou a morrer nesse dia.
São as pessoas que fazem os lugares mas são os lugares que sobrevivem às pessoas. E quando o cheiro a gente desaparecer, quando a fartura de uma mesa de matança for pó, quando as vozes na cozinha e nos corredores for um distante eco, as casas também morrem. De solidão.
terça-feira, fevereiro 11, 2014
Fala do Homem Nascido (António Gedeão. Teatro do Mundo, 1958)
Venho da terra assombrada
Do ventre da minha
mãe;
Não pretendo roubar
nada
Nem fazer mal a
ninguém.
Só quero o que me é
devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui
ouvido
No acto de que nasci.
Trago boca para comer
E olhos para desejar.
Com licença, quero
passar,
Tenho pressa de
viver.
Com licença! Com
licença!
Que a Vida é água a correr.
Venho do fundo do
tempo;
Não tenho tempo a perder.
Minha barca
aparelhada
Solta o pano rumo ao
Norte;
Meu desejo é
passaporte
Para a
fronteira fechada.
Não há ventos que não
prestem
Nem marés que não
convenham,
Nem forças que me
molestem,
Correntes que me
detenham.
Quero eu e a
Natureza,
Que a Natureza sou
eu,
E as forças
da Natureza
Nunca ninguém as
venceu.
Com licença! Com
licença!
Que a barca se fez ao
mar.
Não há poder que me
vença.
Mesmo morto hei-de
passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela
polar!
sábado, fevereiro 08, 2014
Fotografias da Graciosa
"Devo explicar que todas as ilhas têm uma nuvem sua, uma nuvem própria, independente das outras nuvens e do céu, e com uma vida à parte no universo."
Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas
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