sábado, dezembro 12, 2015

Parque das Eiras, do Arquitecto Bruno Félix


Já referi há algum tempo que a reabilitação dos fornos de telha e a sua envolvente seria uma mais valia para a ilha e para quem nos visita, já que ficam a poucos metros de uma importante porta de entrada e encontram-se actualmente num estado deplorável. Sei que esta proposta do Arquitecto Bruno Félix já tem alguns meses mas só hoje tomei conhecimento da mesma; Os meus sinceros parabéns pelo excelente projecto e só espero que chegue às mãos a quem de direito e se venha a concretizar num futuro bem próximo. 

Crítica construtiva: Não seria possível integrar neste projecto os vários edifícios em alvenaria de pedra que ainda existem neste espaço e que faziam parte das eiras? Os fornos de telha são a parte mais impressionante destes espaços, mas os barracões que lhes ficam anexos constituem um testemunho importante do ofício dos telheiros, já que era neles que se desenvolviam a maior parte dos trabalhos. Demoli-los é uma opção fácil mas seria amputar as eiras e perder uma parte muito importante deste património da ilha Graciosa.

quinta-feira, outubro 08, 2015

Fotografias da Graciosa


A Caldeira, senhora da ilha...

sexta-feira, outubro 02, 2015

Uma baleia


Foi num fim de tarde de mar azul que vi a baleia. Houve uma agitação, um salpico esparso de espuma branca sobre o mar raso que me vez olhar para aquele lugar, a pouco menos de uma milha da costa. Subitamente, uma pirueta acrobática, uma barriga branca e um dorso negro. Outra pirueta. E outra e outra... Não ouvi foguetes nem buzina como diziam os antigos que era a lei quando iam caçar o leviatã. A baleia, (baleia de barbas, baleia de bossa?) esteve ali 20 minutos, a saltar e a agitar o mar numa tarde clara de Agosto.

Atónito, apressei-me a pegar na máquina fotográfica e a fazer zoom. Duas (tentativas de) fotografia depois apercebi-me da futilidade do meu acto. Que raio, um dos animais mais magníficos do mundo à minha frente e eu a tentar vê-lo pela objectiva de uma máquina, preocupado em focá-la e enquadrá-la! Desliguei a máquina e fiquei ali, sobre o calhau do mar, a apreciar o espectáculo efémero.

Uma das muitas doenças da pós-modernidade é esta mania absurda de enxergar o mundo por uma objectiva. Sofro como todos desse mal. Como se todo o mundo, redondo e imenso, pudesse caber num ecrã quadrado.

Vi uma baleia. Provavelmente nem esteve tanto tempo ali à vista da costa como eu disse, provavelmente nem saltou e rodopiou no ballet que eu me lembro de ter visto, provavelmente a tarde nem estava bonita e o mar estava agreste, mas eu hei-de lembrar-me por muitos anos que vi uma baleia a agitar o mar chão num fim de tarde doirado de Agosto. Não a prendi numa fotografia mas ela vive livre na minha lembrança e livre no nosso Atlântico.

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Sobre histórias da Carochinha...

De tempos a tempos os jornais e a televisão fazem eco das descobertas arqueológicas que se vão fazendo nos Açores e que atestam um povoamento pré-Português destas ilhas Atlânticas. Se de início estas notícias começaram por ser um fenómeno da silly season, com o passar dos anos foram-se tornando mais constantes nos meios de comunicação social, ao ponto de muita gente começar a assumir que a presença de culturas da Antiguidade no arquipélago, mais do que uma suposição,  seria um facto. Foram “descobertos” hipogeus (túmulos escavados na rocha) nas Flores e no Corvo, pirâmides na ilha do Pico, construções megalíticas, templos fenícios e uma inscrição e uma necrópole romana na ilha Terceira. Supostamente tudo bastante anterior ao conhecimento dos Açores.

Estas pseudo-notícias não passam de efabulações e encontram-se nos antípodas de qualquer processo científico, já que negam factos e misturam paralelos conhecidos, omitem a tradição oral e os registos históricos que existem sobre essas estruturas, conhecidas desde longa data mas bastante distantes da antiguidade que os seus “descobridores” querem fazer crêr. Ademais, nenhum dos intervenientes destas pseudo-descobertas tem competências para interpretar os factos históricos e os dados arqueológicos, a não ser que os lastimosos documentários do Canal História confiram equivalências. Acreditar, sem quaisquer provas dignas desse nome e reconhecidas como tal, que o arquipélago dos Açores seria habitado desde milénios antes de Cristo por culturas provenientes da bacia do mediterrâneo - como o são fenícios ou romanos - manifesta um medíocre conhecimento da História e da Geografia. 

O Estreito de Gibraltar, essas Colunas de Hércules da lenda, constituiria um marco bem fincado para a navegação; se o Mediterrâneo era atravessado desde tempos imemoriais por embarcações, o Atlântico apresentava-se uma imensidão desconhecida e tormentosa e todas as embarcações que o sulcavam na Antiguidade limitavam-se a navegar à vista da linha costeira. A tecnologia e os conhecimentos da época estavam muito longe de permitir a navegação em pleno Atlântico e só na centúria de quatrocentos se arriscaram navegações para outras longitudes. Como se poderia explicar então a existência nos Açores de estruturas pretensamente semelhantes às encontradas no continente Europeu - com 4000 ou 2000 anos - e que implicariam uma ocupação bastante alargada no tempo? Com que finalidade aportariam aqui canoas ou trirremes romanas? Onde estão os vestígios materiais que qualquer ocupação humana deixa por testemunho e que traduzem-se em cerâmicas, numismas e vidros que nos permitem estabelecer paralelos efectivos e datações absolutas?

Em última análise, este fenómeno é sintomático do estado acrítico a que chegou uma sociedade que se debruça durante muito tempo sobre a televisão e pouco sobre bons livros.

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Graciosa, ontem.

Dia de São Vapor na Calheta, em Santa Cruz. A data é incerta (anos 40, 50?)

sábado, janeiro 31, 2015

Caldeirinha

Adivinha-se na topografia da Serra Branca os contornos esbatidos de uma velha e grande caldeira, cujas paredes erodidas por milhões de anos mal se fazem notar entre o tapete de erva que a forra. Este vulcão seria pouco menor do que a Caldeira, mas muito mais antigo. 
Nesta imensa cicatriz, destaca-se a Caldeirinha, uma pequena chaminé vulcânica e que terá surgido muito depois do vulcão da Serra Branca e foi povoada por diabretes quando as gentes também aqui aportaram e que hoje em dia é um miradouro excepcional sobre as terras chãs de Santa Cruz e Guadalupe. Chamam-lhe Caldeirinha, mas os Graciosenses de outrora chamavam-lhe Caldeira de Pêro Botelho, que era nome de baptismo do Tinhoso, do Mafarrico, do Demónio com pernas, braços e pele de Homem.
Se Deus está em todo o lado, o Diabo remete-se apenas a um sítio, a um buraco fundo e escuro, entre os vapores de enxofre e a humidade podre do musgo velho. Não está sozinho na sua masmorra: os diabretes servem-no e povoam o imaginário Graciosense. Era frequente estes seres malfazejos sairem da Caldeirinha, descerem as canadas e atentarem as lavadeiras do caminho do Tanque, que mais do que qualquer outra pessoa tinham razão para temerem aquela cratera do demo, sobranceira ao ermo onde lavavam a roupa dos senhores da vila. O rol de travessuras destes acólitos de Belzebu é grande, maior do que se possa enumerar. Talvez, em alguns casos, pudessem estar inocentes.
Nos últimos anos investiu-se na requalificação do caminho que contorna a cratera e na construção de um miradouro que abarca um vasto e belo panorama, de verde e azul, de montes e mar que custa acreditar que o demónio tenha habitado estas paragens.