terça-feira, dezembro 21, 2010

Fotografias da Graciosa

Ermida de Nossa Senhora da Ajuda e Casa dos Romeiros.

sábado, dezembro 11, 2010

Ermida de Nossa Senhora da Ajuda

A Ermida de Nossa Senhora da Ajuda, em Santa Cruz, constitui-se como elemento singular dentro da arquitectura religiosa da ilha branca. A pequena ermida foi construída no século XVI e constitui-se como valioso exemplo da arquitectura religiosa fortificada nos Açores, pese as prováveis alterações que lhe foram feitas ao longo dos séculos. Sempre gostei de imaginar que as opções arquitectónicas adoptadas pelos construtores desta ermida e que lhe deram a aparência de uma pequena fortaleza, tiveram como principal motivo dissuadir os piratas que noutros tempos rondavam esta costa, de por aqui atracarem. Vista do mar, a ermida em posição altaneira no cimo do monte, lembraria uma fortaleza guarnecida de artilharia preparada para defender a Vila de Santa Cruz, sossegada no seu sopé. Fosse ou não assim, o que é certo é que por aqui nunca desembarcaram essas gentes malfazejas. Valha-nos Nossa Senhora d´Ajuda.   

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Mar bravo

A chuva, outra vez a chuva. E o vento. E as vagas colossais que afrontam a terra. O mar embravecido mete mais medo do que qualquer outra coisa. E eu longe, lembro-me da orla costeira de Santa Cruz e dos Fenais, desprotegidas e vulneráveis à fúria titânica das ondas. Para quê construir marinas, se nem esta porção de terra conseguimos guardar?

segunda-feira, novembro 29, 2010

Vai-se construindo...

Já aqui abordei anteriormente, a manifesta falta de pudor de quem constrói e de quem permite que se construam os edifícios incaracterísticos que despontam um pouco por toda a ilha - encontrando-se no Carapacho os exemplos mais flagrantes -, mas nunca será de mais escrever mais umas linhas a esse respeito, em forma de desabafo.
Ainda que a arquitectura tradicional da Graciosa seja - á imagem da arquitectura tradicional de tantos outros lugares – de uma simplicidade estóica, constitui-se como marca indelével de gentes e vivências, também elas simples, também elas pobres. Essa é a sua imensa riqueza e é esse resultado de um árduo labor, onde a pedra era recolhida nos campos ou arrancada á rocha viva junto ao mar, onde as madeiras eram trabalhadas á mão e as telhas cozidas em vetustos fornos, que importa preservar.
Hoje, demolem-se esses edifícios centenários, preteridos por aberrações em betão, horríveis em qualquer parte do mundo e que sobressaem por entre as discretas e alvas casas da ilha. As razões básicas para esta tendência, serão antes de tudo, de cariz sociológico: a casa, á semelhança da pessoa, tem de exteriorizar um modo de vida e um status, que correspondam, senão à pessoa, às suas aspirações sociais e ao “parecer bem” perante os seus pares. Essa propensão traduz-se nos tristes exemplos de arquitectura de gosto duvidoso que começaram a despontar nos últimos anos, tentativa infeliz de exteriorizar conforto e, bem vistas as coisas, aquele american way of life que sempre se invejou. Estas edificações adoptam modelos desenquadrados da realidade insular, pintam as fachadas com cores incaracterísticas, imitam alvenarias e cantarias de basalto sem nexo, decoram os jardins com pias em pedra e pesos de lagar rapinados de algum lugar. A lista de anormalidades é extensa. Que se proíbam estes atentados, que se imponham cérceas em consonância com o enquadramentos, que se imitem as fachadas antigas e as coberturas em telha de canudo, que haja bom gosto e que – enfim – se respeite o Plano Director Municipal.

quarta-feira, novembro 24, 2010

Mérito

A Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Luz já tem uma página na Web. Exemplo de trabalho, transparência e dedicação, a seguir por Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia por este Portugal fora.

http://freguesialuz.pt.vu/

terça-feira, novembro 23, 2010

Incompetência

No site da Rádio Graciosa:

"A Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa vai indemnizar a empresa Somague em 280 mil euros, pela empreitada de Construção do Pavilhão Desportivo e de instalações técnicas de electricidade, telefones, gás, águas e esgotos, para além de arranjos exteriores no Complexo Desportivo de Santa Cruz.

Esta verba resulta de um acordo entre autarquia e a empresa que construiu o Pavilhão Municipal, pois devido a erros que havia no projecto, este foi atrasado em um ano.
Segundo o presidente da Câmara Municipal, Manuel Avelar Santos, está a pagar-se, não por trabalhos a mais, mas por erros com que a empresa se deparou no projecto e que obrigou à sua permanência na ilha por mais um ano.
O Pavilhão Municipal, custou cerca de 2 milhões e 280 mil euros à autarquia Santa-Cruzense."


1) Erros de projecto que custaram 280 mil euros deviam ser pagos pelo projectista que concebeu o pavilhão e não pela autarquia.
2) Um ano para emendar erros de projecto. Depreendo que o empreiteiro, ao iniciar a obra, se terá deparado com o projecto de uma barragem. Esse ano foi o tempo que levou a transformá-la num pavilhão.
3) A Somague, ao concorrer à empreitada e assumir o cumprimento do caderno de encargos, não terá tido um gabinete de projectistas que avaliasse o projecto do pavilhão e lhe detectasse e corrigisse as falhas?

Custa-me ver o dinheiro de todos nós a arder num fogo ateado por um incompetente.  



domingo, novembro 14, 2010

Fotografias da Graciosa

Baía da Barra, em Santa Cruz, vista do Monte d´Ajuda, enquanto se aguarda o projecto da marina que decerto a descaracterizará irremediavelmente.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Viajar: Planalto Mirandês

Sendim. Sobre a lareira do restaurante, o retrato da velhinha Ti´Gabriela, sorridente e barbada, abençoa-nos a refeição. Na mesa, um naco de carne maior do que tudo o que comi até hoje, esvai-se em sangue. Pego no garfo e na faca. Vai dar luta. Chamam-lhe Posta Mirandesa e segundo a tradição foi a velha senhora do retrato que a refinou e a deu conhecer ao resto de Portugal.

O planalto mirandês é terra de Homens duros. Só sendo duro se consegue deglutir este manjar. Eu fico-me por metade. A posta é apenas uma das singularidades desta terra Transmontana que evoluiu arredada do resto de Portugal. As terras de Miranda cheiram a ancestralidade, a costumes que se perderam no resto do mundo mas que aqui sobrevivem com alguma pujança. A língua Mirandesa é exemplo paradigmático. Não é que se ouça nas ruas, mas de quando em vez chegam-nos aos ouvidos palavras desse dialecto arcaico, mescla das duas línguas ibéricas. Na música, a gaita de foles mirandesa, constitui-se como símbolo máximo desta terra. E os pauliteiros, que na dança perpetuam a memória dos guerreiros que por aqui se digladiaram.

Perdi-me nestas terras antigas que pontuam o planalto, Sendim, Palaçoulo, Duas Igrejas, Constantim, Prado Gatão, Miranda do Douro, Mogadouro, entre outras cujos nomes não me ocorrem mas que resistem orgulhosas na sua diferença, cunho de uma identidade milenar profundamente telúrica e avessa a estandardizações. E nós que nos deixamos enfeitiçar por reminiscências de mundos perdidos que vivem nos documentários e no cinema, desconhecemos que temos aqui tão perto esse mundo maravilhoso.

A minha estadia foi curta, mas fiquei fascinado por esta região, onde se chega a custo por estradas velhas e sinuosas e que, de algum modo, ajudaram a preservar esse recanto ancestral da nossa memória, o Portugal mais profundo e verdadeiro.








sábado, outubro 09, 2010

Cais Novo

O Inverno apressou-se a chegar, remetendo os dias de Verão - que foram poucos - para uma mera nota de rodapé. O mar, esse mar que é pai e padrasto, Deus e Diabo, sacudiu os alicerces da ilha e esmurrou as rochas negras que lhe tomaram o lugar quando a ilha nasceu. Um ilhéu desde cedo que se habitua a estas vicissitudes. Não há muralhas, por mais rijas que sejam, que resistam á fúria de um Atlântico embravecido e indomável.
O Cais Novo, que me é bastante querido e não tão novo como a designação o indica, ressentiu-se. É ele que ao longo destas mais de quatro décadas tem guardado a Calheta da fúria tremenda das ondas puxadas a nortada. Mais tarde ou mais cedo, depois do sal se lhe ter entranhado no betão bruto que lhe deu forma, de o mar o ter agredido por 40 invernos, este velhote havia de ceder. Foi hoje. Nada que não possa cicatrizar a tempo de enfrentar novos invernos e continuar, discreto mas robusto, a suportar a ira de Neptuno.









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quarta-feira, outubro 06, 2010

Viajar: Onde Portugal começa.

Portugal começa aqui, na metade do rio Minho que nos coube nas partições de fronteiras. Na outra margem, a Galiza irmã, parida da mesma barriga que pariu o Minho.
Ao longo da margem ídilica do rio, desde Caminha, passando por Vila Nova de Cerveira, Valença e Monção (onde me detive nesta deambulação), uma série de muralhas rasgadas por canhoneiras ferozes afrontam a outra margem, essa Espanha que sempre nos meteu medo e onde se vislumbram muralhas iguais, envergonhadas no meio da vegetação. Hoje resta um rio - não há nada que possa anular essa fonteira - um Minho verde e sereno, de quando em vez agreste e que queremos mais nosso do que dos Espanhóis.  

domingo, outubro 03, 2010

Hortênsias...

A Hortênsia, não sendo um endemismo Açoriano, impôs-se nas últimas décadas como imagem de marca das 9 ilhas. Ainda que dê um pitoresco colorido aos pastos verdes do arquipélago, trata-se de uma planta invasora, á semelhança de tantas outras que ocuparam o lugar da flora nativa da região. Na Graciosa, mercê de condições adversas, a Hortênsia reduz-se a pequenos apontamentos que pontuam alguns caminhos, como o do Monte d´Ajuda.
Ironia: a Graciosa, que ainda se conserva livre desta praga que atormenta os agricultores das outras ilhas, acha-se quase totalmente desprovida desse pretenso símbolo turístico do Arquipélago, facto que vem a causar alguma estranheza aos turistas. E acaba sempre por ser dificil explicar-lhes que estas flores azuis ou cor de rosa, são uma praga estrangeira e nada tem de Açoriano, a não ser na cabeça da pessoa que elaborou o famoso logótipo. 

segunda-feira, setembro 20, 2010

domingo, setembro 12, 2010

Centro de Visitantes da Furna do Enxofre


Ainda que não tenha prestado muita atenção à eleição das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, louvo a divulgação que foi feita da nossa Furna do Enxofre e da nossa Graciosa ao longo deste últimos meses. Poucas vezes a ilha branca terá tido tanto espaço de antena nos meios de comunicação social como durante este evento. Esperemos agora que isso se traduza num aumento do número de visitantes. 
Fui noutro dia visitar a Furna do Enxofre, pela primeira vez depois das obras, e ainda que a tenha encontrado encerrada devido aos níveis elevados de Dióxido de Carbono, encontrei um belo e funcional Centro de Visitantes, com muita e precisa informação sobre a gruta, bem enquadrado na moldura verde da Caldeira e bastante diferente do pequeno casebre de madeira que durante anos acolheu quem visitava a Furna. Nota negativa só mesmo para os acessos, porque de carro já não se chega ali e o trilho pedestre que conduz ao centro não se encontra em bom estado, dificultando a visita a quem tenha condicionantes físicos. Esperemos que seja uma situação céleremente resolvida.
Regressei com pena da Furna estar encerrada, mas contra as leis da Natureza nada podemos fazer. Fica para uma próxima.

segunda-feira, setembro 06, 2010

Museu

As obras no Museu da Graciosa estão prestes a terminar. Não me alongarei a contestar esta obra, mas mais uma vez não posso deixar de pensar que a opção arquitéctonica adoptada para aquele espaço não foi a mais adequada. 
Agora é esperar que o Tempo lime as arestas e talvez daqui a uns anos reconheçamos que afinal, aquelas linhas até se enquadram bem no perfil da Vila de Santa Cruz. Até lá, assusto-me sempre que passar por ali... 

sábado, setembro 04, 2010

olhar lá p´ra cima...

Estou, neste preciso momento, mesmerizado por um céu nocturno sem réstias de nuvens, pintado de constelações até à linha do horizonte, imperceptível.
Aqui, no meio do imenso Atlântico, parece que existem mais estrelas sobre a nossa cabeça e o negro da abóboda parece a ser mais esmagador do que em qualquer outro lugar.
Aqui sentamo-nos na primeira fila para o maior espectáculo da História e o melhor de tudo é que nem temos de pagar bilhete. Que se lixem as novelas sensaboronas que passam na televisão, que se lixe o wi-fi da Internet, os Blogs e os Facebook´s, que se lixe este texto irrelevante que agora escrevo; Numa noite como esta um gajo só precisa de se desligar do mundo e olhar lá para cima. Por hoje um gajo só precisa disso para ser feliz.
Fui!

domingo, agosto 29, 2010

Fotografias da Graciosa


Praça de Touros do Monte d´Ajuda, em Santa Cruz.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Os Aventureiros

Os “aventureiros” chegavam quase sempre de noite e de noite zarpavam. Não se demoravam mais de três dias porque havia outros portos onde ancorar, e as marés não esperam por ninguém. Chamavam aventureiros aos veleiros que de tempos a tempos aportavam na baía.

Lembro-me de um senhor, 60 e poucos anos, magérrimo, ter andado 20 dias perdido no mar e a Graciosa ter sido a sua salvação. Lembro-me de outro aventureiro, em madeira, pintado de preto que cá chegou a vir três ou quatro vezes e lançava âncora em frente ao Boqueirão. O aspecto de barco pirata, como os que víamos nos filmes, dava mote ás brincadeiras da rapaziada, lá no meu caminho.

Será tolice da minha parte, mas parece-me que nas pessoas mais antigas, ainda se notavam reminiscências dos tempos idos em que uma vela no horizonte era motivo de alvoroço e preocupação. Piratas. E estes aventureiros, estes estrangeiros que ninguém percebia e que eram sempre tão breves e tão misteriosos, bem que podiam não ser gente de bem.

Hoje ninguém se espanta quando eles aparecem, quase todos iguais, ninguém se espanta com os nomes de países longínquos, pintados na popa. Iates e iatistas. O mundo abriu-se á ilha e os aventureiros, que se perdiam e cruzavam o Mar em barcos em madeira, fecharam-se num qualquer sonho de tempos idos.

terça-feira, agosto 03, 2010

Fotografias da Graciosa


Abrigo no Porto Afonso

Porque se fez Verão e o Porto Afonso é sempre bonito nestes dias.

domingo, junho 20, 2010

Verão

Verão. A ilha acorda, subitamente, com as folias das festas, com a algazarra dos banhistas que matam o tempo nas águas do Carapacho, da Praia, da Calheta, com o Atlântico manso e os dias azuis. As saudades da distância são aliviadas com um abraço, com tardinhas passadas á volta de uns sargos assados na brasa e um garrafão de vinho de cheiro. E conversas até a noite ir adiantada. Pudesse ser Verão o ano todo...

segunda-feira, junho 07, 2010

Recordar...

O velho açucareiro da praça de Santa Cruz, recordado numa série de belas e comoventes fotografias dos tempos em que as tertúlias se reuniam sob a sua pala e por ali desfiavam estórias e vidas. Para ver e para recordar.

Sigam o link:

http://canadadasxixaras.blogspot.com/

sábado, junho 05, 2010

Fotografias da Graciosa

Foto da Autoria de Almeida Langhans

Ainda há quem se lembre deste fiel amigo transportar, no seu pequeno atrelado, a água para uso doméstico. Outros tempos...

terça-feira, maio 25, 2010

Fotografias da Graciosa

Ermida de Nossa Senhora de Vitória (Séc. XVII), na Beira-Mar da Vitória, a recordar a vitória alcançada pelas gentes da ilha sobre os piratas que aportaram neste lugar a 19 de Maio de 1621.

quarta-feira, maio 12, 2010

Beatas

Havia, na minha rua - como em todas as ruas de todas as terras - beatas. Vestidas de preto, crucifixo nas mãos, andar célere para não se atrasarem para a missa das seis e ladaínhas sussuradas entredentes a invocar um qualquer santinho da sua devoção. O seu ar inquisitorial assustava-me mais do que tudo. Parecia que a qualquer deslize, a qualquer desvio de comportamento ou falta á catequese, estas Torquemadas podiam mandar-me para a fogueira como herege. (Não mandaram, mas acabei por levar muitos puxões de orelhas à conta do que essas velhotas contavam aos meus pais.)
Falavam amíude de Jesus, de São Pedro, de Nossa Senhora de Fátima, do senhor padre, das Festas de Santo Cristo, mas mais do que tudo, falavam da vida dos outros. Sempre vi o conceito de beata como parte integrante do conceito de alcoviteira. Eram exímias nessa suprema arte de inventar e lançar boatos, em falar mal deste e daquela ao mesmo tempo que me tentavam impôr os dez mandamentos. Enquanto rezava uma avé-maria, uma beata conseguia infringir pelo menos metade dos dez mandamentos.
A sua ingenuidade, aliada ao facto de se acharem versadas na interpretação da Bíblia e da hagiografia cristã, tornava-as tremendamente preconceituosas. Contra quase tudo e contra quase todos. Bastava ser diferente.
Hoje lembrei-me dessas beatas. Estava num mini-mercado de uma pequena aldeia, compras em cima do balcão para pagar, dinheiro na mão, quando entrou um negro. A dona da loja, velhota, vestida de preto, crucifixo a baloiçar atrás do xaile, seguiu-o com os olhos. O homem despareceu atrás de uma estante e a senhora apressou-se a sair do balcão e foi vigiá-lo. O homem voltou com um pacote de bolachas, deu-lhe uma moeda e saiu. Enquanto punha as minhas compras no saco, soltou um "estes pretos ainda são pior que os ciganos, valha-me Deus!". Enquanto eu saía, a beata colou os olhos ao velhinho televisor. Estava na hora da missa do Papa.  

sábado, maio 08, 2010

Fotografias da Graciosa

A Serra Dormida ao fundo e as courelas do Guadalupe, rasgadas pela estrada.

segunda-feira, maio 03, 2010

3 de Maio de 1450 - 3 de Maio de 2010

"Parece e é certo que esta ilha Graciosa se descobriu no anno de 1450 em dia da invenção da santa cruz, que se celebra em 3 de Maio do dito anno. O primeiro logar por onde se descobriu e entraram nelle foi o portinho do Carapacho, logar do Sul grande, e n'este logar fizeram uma casa para alfândega"


Memória citada por Canto Moniz in Ilha Graciosa, Descripção Històrica e Topographica

quarta-feira, abril 21, 2010

A "nova" praça


Desde já confesso que gostei bastante do projecto de requalificação da praça de Santa Cruz.
A maior parte das praças que conheço neste nosso Portugal, cheiram a mofo. Estagnaram numa certa década do século XX e acabaram por ser substituídas por novos espaços, dispersos pela malha urbana. Vi quadros decrépitos em algumas das principais praças de cidades grandes, que não souberam adaptar o que seria um espaço nobre per si, á mentalidade e aos gostos do presente. A nossa praça, ainda que longe desses estados de abandono e incúria, estagnou algures no século passado. Eis pois que vejo no novo projecto uma oportunidade para a revitalizar e adaptar ao século XXI e louvo a visão de quem disso se apercebeu.
As alterações propostas pelos projectistas respeitam o pré-construído e tem em conta a enorme importância social daquele espaço na vida dos Graciosenses. A única alteração de fundo prende-se com a demolição do velhinho “açucareiro” e a construção de um novo coreto, minimalista q.b. e desprovido da graça do actual. Até isso acho bem. O actual coreto, ainda que seja ponto de convergência de velhos e novos nas noites indolentes de Verão ou quando a nortada puxa a chuva no Inverno, sempre me pareceu um objecto estranho, ainda mais agora que foi desprovido da sua funcionalidade inicial.
O projecto proposto vem sublinhar a importância da praça como ponto de encontro mais do que simples lugar de passagem e verdadeira sala de visitas da Vila de Santa Cruz, adaptada á realidade do Século XXI. Há que ter orgulho nisso.

domingo, março 14, 2010

Escrever qualquer coisa...

Já perdi a conta ao número de quilómetros que fiz desde o ínicio de 2010, ás terras onde me detive poucos dias, ás camas sempre diferentes. Só o frio e a chuva me tem acompanhado fielmente nestas deambulações entre o Sul e o Norte deste Portugal pequeno. Assim, consumido pelo Tempo que me falta e pelo Tempo que me molha e enrregela, pouco tempo tenho para andar por aqui. Não é que o que escrevo neste espaço seja pertinente, mas é sempre bom vir aqui escrever cinco linhas mal alinhavadas e manter viva a Ilha Branca que guardo ciosamente.
Hoje estava mesmo a precisar de aqui vir (e vim, mesmo a esta hora tardia e depois de outra viagem cansativa por estradas escuras e sinuosas), mesmo sem nada para escrever para além deste meio-desabafo sisífo. Enfim.

domingo, fevereiro 21, 2010

Sismos

Ainda que não tenham ocorrido erupções vulcânicas desde o inicio da colonização humana da Graciosa, as forças tectónicas não pouparam a ilha e por mais do que uma vez, os sismos reduziram freguesias inteiras a escombros. O Homem insular teme os abalos acima de qualquer outra coisa, ainda que esse medo não se traduza na vida quotidiana de quem aqui habita - excepto em demonstrações pontuais de religiosidade, como a procissão do 24 de Maio – sempre que a terra se agita em suspiros mais ou menos audíveis, lembramo-nos que o dia de amanhã, pode ser o último.

1611 e 1630 – Sismos que atingiram sobretudo Santa Cruz, ocorreu a destruição da Igreja Matriz.
13 de Junho de 1730 – Sismo de Grau IX ou X na escala de Mercali, destruiu quase completamente a Praia e a Luz.

Março de 1787 – Crise sísmica, da qual não se conhecem danos
Janeiro de 1817 – Crise sísmica, que embora não tenha causado danos, lançou o medo entre os habitantes da ilha.
21 de Janeiro de 1837 - Sismo de grau IX na escala de Mercali, ocorrido pouco depois das 4 horas da madrugada. Destruiu muitas casas e na Luz, de 480 casas habitadas, só escaparam duas.
1 de Janeiro de 1980 – O último grande sismo, sentido com Grau VII na parte Oriental da ilha, provocando danos avultados em cerca de 50% das 3000 casa que constituíam o parque habitacional.

sábado, fevereiro 13, 2010

Fotografias da Graciosa


Guadalupe e Santa Cruz, vistas do Sopé da Caldeirinha.

domingo, fevereiro 07, 2010

Em mudança...

Depois de mais de um ano a viver no Alentejo, chegou a altura de rumar a Norte, ás terras frias Transmontanas. Para trás deixo uma terra da qual aprendi a gostar, um Alentejo indolente e doce como um fim de tarde de Verão, de aldeias caiadas perdidas na imensidão da planura, de boa comida (ah o porco preto!) e bom vinho, de gente simples e boa, de searas doiradas a ferirem a vista no pico do Verão, de praias escondidas entre as falésias mudas. Vou mesmo ter saudades.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Guadiana, ao fim do dia.



Aqui onde acaba Portugal e começa Espanha, onde os dias morrem ao som da águas dormentes do Guadiana, debruço-me sobre uma velha mesa da esplanada, copos tombados e côdeas de pão, uma fatia de queijo. Seis e onze da tarde. Por cima de mim, as poucas casas debruçam-se como eu, sobre o Guadiana meio-cheio. E  pensei: isto é tão longe que antes de sair daqui, já esqueci o nome da terra. Mas não. Recordo-o e vou recordá-lo mais uns anos; Pomarão. É díficil lá chegar, mas vale tanto a pena.  

domingo, janeiro 03, 2010

Primeiro post do ano...

Passo pelo Carapacho e detenho-me um pouco. Mudou muito em tão pouco tempo. Para pior. Antes, as pequenas casas caiadas, telhadas com as meias-canas cor de barro, alinhavam-se á beira do mar e sorriam. Hoje, os mamarrachos que construíram ao longo dos últimos anos, fazem-lhes sombra. O Carapacho tem as casas mais feias e mais pirosas da Graciosa. E foram todas construídas nos últimos 10 anos. Muitas delas por emigrantes. A arquitectura importada das terras do Tio Sam, ainda que possa ter absorvido alguns dos elementos que caracterizam a arquitectura dos Açores, é uma aberração ao lado das modestas casas do Carapacho e nada tem a ver connosco. São imitações kitsch e revelam uma tremenda falta de bom gosto e sensibilidade. Há leis que proíbem o que se está a fazer no Carapacho, mas se houvesse bom-senso, elas nem precisariam de ser estipuladas.