sexta-feira, novembro 23, 2007

A Praia (parte I)

A Praia foi a primeira povoação que se fez na Graciosa, beneficiando desde logo da sua posição geográfica e de um excelente desembarcadouro sob a forma de um areal que nos inicios da década de 60 do século XV seria decerto muito mais extenso do que hoje. Em pouco tempo surgiram as primeiras casas e os primeiros caminhos em redor da pequena ermida de São Mateus, então bastante diferente da que hoje conhecemos.
Espalhados pelo interior e derramando-se pelo litoral começaram a surgir outros pequenos núcleos de povoamento, dos quais a Praia parecia destinada a tornar-se capital. A chegada do primeiro Capitão do Donatário alterou o que parecia já uma certeza e ele preferiu estabelecer a sede da sua capitania na outra banda da ilha. Assim nasceu Santa Cruz. Não é dificil de acreditar que a rivalidade entre as duas localidades remonte a esses séculos já longinquos.
A Praia, ainda que dotada de boas condições geográficas encontrava-se estrangulada por algumas das terras mais difíceis da ilha, entre o "salão" da Caldeira e os "biscoitos" formados pela lava do pico Timão. As suas capacidades agrícolas, aos contrário de Santa Cruz, pareciam bastante limitadas.
A 1 de Abril de 1546 D. João III eleva a Praia a Vila em virtude dos seus moradores se acharem prejudicados em relação a Santa Cruz. A nova circunscrição abrangia também o que é hoje a freguesia da Luz.
"Querendo fazer graça e mercê aos moradores do dito lugar da Praia, eu por meu moto próprio faço o dito lugar vila, e eis por bem que daqui em diante para sempre o seja e se chame vila da Praia, e aparto e desmembro da vila de Santa Cruz e de sua jurisdição de que até agora foi e lhe dou e concedo o termo seguinte, a saber: toda a freguesia da dita vila, que é da cruz do Quitadouro e daí pelo espigão do grotão da serra da Irmida contra a vila ao mais alto da dita serra, e daí direito ao castelete, que é na rocha do mar, e daí á roda do mar até tornar á dita cruz do Quitadouro (...) e assim eis por bem e me apraz que daqui em diante a dita vila da Praia e moradores dela e do dito termo não sejam obrigados a obedecer á dita vila da Santa Cruz. (...) e os moradores da dita vila da Praia poderão levantar e pôr forca e pelourinho e ter bandeira e selo e as outras insignías que tem as outras vilas de meus reinos (...)."
in Arquivo Nacional, Chancelaria de D.João III, livro 43, folha 25 v (adaptado)

quarta-feira, novembro 21, 2007

A propósito...

Em 1883 Canto moniz escrevia na sua Descripção Histórica e Topographica da Ilha Graciosa que a criação de gado bovino era bastante limitada por falta de pastagens. Não foram precisos 100 anos para que este quadro se alterasse radicalmente, a "monocultura da vaca" monopolizou a economia de uma ilha cuja produção de cereais, vinho e aguardente rivalizava noutras centúrias com as ilhas maiores.
Há 60 anos os pastos eram raros, tampouco os cerrados de milho, então em poucas décadas as espigas douradas de trigo deram lugar a um tapete verde de trevo e luzerna, destruiram-se vinhas inteiras para semear milho e as vacas passaram a ser mais do que as gentes.
As vinhas, os pomares e as hortas que ainda hoje se cultivam são resquicíos de um passado que por este andar será trucidado pelos tractores e pick-up´s comprados com os subsidios de Bruxelas. Mas as "vacas subsidiadas" são também elas efémeras; os criadores terão mais cedo ou mais tarde de comtemplar outro meio de subsistência... mas como dizia um velhote que conheci no Alto Douro, se o governo desse subsidio para coqueiros, até isso ele tratava de plantar.

terça-feira, novembro 20, 2007

Hoje

"(...) fomos então para o gado. E a nossa ilha está - como é que hei-de dizer - apareceu num estado, que talvez não seja para a gente dizer, miserável (....). Os pastos não se mondam, não se cortam as silvas, não se corta nada e está-se a encher a pastagem de monda (...). Não semeamos trigo, não semeamos nada e o gado a esticar. Será o fim de nós? "
Testemunho de António Maria da Cunha registado por Almeida Langhans em 1981

Ontem

Foto de António Brum Ferreira

"O terreno da ilha Graciosa não pode ser levado a maior cultivo: todo elle com pequenas excepções se acha agricultado(...)"

Félix José da Costa, 1845

quinta-feira, novembro 08, 2007

What the f*ck!?...

Não deixa de ser irónico que um edifício que pretende ser um guardião da nossa memória colectiva de Graciosenses seja um OVNI que nada tem a ver com as nossas raízes...

sexta-feira, outubro 12, 2007

Fé?

Um viajante anónimo, que conheci depois de se ter "perdido" uns dias na Graciosa, dizia-me que se tinha impressionado com o número de igrejas e ermidas que as gentes deste pequeno torrão de terra tinham construído... Não me recordo agora do número exacto de templos espalhados pelas quatro freguesias mas, inventário feito,superam as três dezenas... Disse-lhe que o resto dos Açores são assim, não há povoação que não tenha um par de ermidas, não há vila que não tenha igreja matriz....
Como não poderia ser assim? Rodeados de mar bravo, abalados por sismos, amedrontados com a sombra dos picos, vulcões adormecidos... Como não poderia ser assim? Parece que passamos mais de metade dos nossos cinco séculos de História a construir igrejas, esforço catártico: se não temos fé nas forças terrenas, temos de ter fé no Céu!
Mas se as igrejas e ermidas são para Deus, os seus adros são para os Homens, se umas são para aproximar o Homem do Divino, os outros são para aproximar o Homem dos seus semelhantes. Os adros são pontos de encontro, de folgares e romarias animadas onde os ilhéus convivem, quebram o isolamento próprio de quem vive circunscrito a meia légua de terra...
30 igrejas e ermidas é boa conta; somatório dos nossos medos, da nossa fé insular, da nossa necessidade de esquecer que o dia de hoje (se a terra se inquietar) pode ser o último...

segunda-feira, setembro 24, 2007

segunda-feira, julho 16, 2007

Arquitecturas

O "rectângulo" a que se convencionou à oito séculos atrás chamar Portugal é, mesmo na sua pequenez, de uma heterogeneidade espantosa, tão diferente em paisagens e gentes como um país grande. As pessoas do Alto Minho pouco tem a ver com as do Baixo Alentejo, os Beirões diferem em muito dos Algarvios e mesmo assim, embora este nosso bairrismo tão pindérico, quando pegamos num mapa desta "jangada de pedra" sabemos onde estão as fronteiras e de que lado é o estrangeiro...
Os Açores não deixam de ser um retrato do continente, não tanto nos aspectos geográficos, mas sobretudo nos modos... Assim se acreditarmos que a colonização começou em Santa Maria com pessoas vindas do Algarve e chegou ao Corvo com colonos vindos das serranias transmontanas conseguimos descortinar em cada uma das ilhas, tradições e maneiras de ser das gentes vindas das várias regiões do reino.
A Graciosa, ao acreditarmos no anterior pressuposto, estando no centro do arquipélgo deve ter sido colonizada por pessoas vindas do centro do país, do Alto Alentejo, das Beiras. A arquitectura diz o mesmo: as nossas casa são papel-quimico de muitas das casinhas destas regiões; as casas de Santa Maria são tão semelhantes ás do Algarve e Vila Nova do Corvo lembra em todos os seus contornos uma aldeia de xisto de Trás-os-montes, aninhada á sombra de altas fragas (que aqui são de negro basalto).

quarta-feira, junho 13, 2007

Pedras Brancas

Imagem:Turangra

Tenho vagas lembranças, porque era moço de pouca idade, da primeira vez que a RTP-Açores passou a série Pedras Brancas; a familia reunia-se em volta da televisão depois do jantar, mesmerizados pelas imagens de uma ilha que, embora conhecessem à muito, parecia surgir agora no ecrã do nosso velhinho televisor com outros contornos... Só quando o canal regional passou uma reposição da série há uns anos atrás é que me apercebi do real valor daquelas imagens que nessa altura já acusavam o passar dos anos (mas tanto melhor...)

Pedras Brancas, rodada em ínicios dos anos 80 no lugar com o mesmo nome, acompanha o quotidiano de uma humilde familia de lavradores Graciosenses durante várias fases de um ano, como por exemplo a matança do porco, os trabalhos na terra, as vindimas, as festas e procissões. Pelo meio aborda, às vezes quase imperceptivelmente, uma série se outros assuntos como a emigração, a pobreza e a morte. A melhor palavra para definir Pedras Brancas é documentário; as situações que nos apresenta não são ficcionadas, não existem personagens, apenas pessoas. E são pessoas que se cansam, que se sujam e suam, que falam com sotaque e usam roupas com remendos, são pessoas que ilustram o que foi uma Graciosa de outros tempos e cujos rostos já começamos a esquecer...

Pedras Brancas, mais do que qualquer livro que se possa escrever, é um valioso testemunho etnográfico, etnológico e sociológico de uma ilha rural, onde já se adivinhavam mudanças radicais, mas que permanecia na sua essência igual ao que sempre fora desde que os homens a povoaram. Talvez seja o mais bonito tributo que fizeram a esta ilha, alva como essas pedras, e hoje bastante diferente...


P.S há quem prefira a Ilha dos Amores com o seu visual clean. Eu prefiro as pessoas com terra debaixo das unhas de Pedras Brancas... Os Açores são assim.


Demografia


População do concelho de Santa Cruz da Graciosa (1849 – 2004)


1849- 5349 habitantes
1900- 8359 habitantes
1930-8470 habitantes
1960-8669 habitantes
1981-5377 habitantes
1991-5189 habitantes
2001-4780 habitantes
2004-4777 habitantes

segunda-feira, junho 11, 2007

Menino Maroto...

Cartoon da autoria de TD, intitulado "menino maroto"

E saudades disto...

Santa Cruz em inicios da década de 60 do século passado. Fotografia de António de Brum Ferreira.

quarta-feira, junho 06, 2007

Saudades


Hoje acordei com saudades da minha ilha... com saudades do verão insular, do mar azeite derramando-se numa imensidão até ao fio do horizonte, do cheiro do basalto aquecido pelo sol, do som dos garajaus e das cagarras á meia noite... Tenho saudades de subir ao Monte da Ajuda e tomar banho no Barro Vermelho, de entrar na Caldeira... Saudades da Serra Branca e do Pico Timão, dos campos do Guadalupe... Saudades das casinhas brancas da Vitória, da arquitectura sóbria de Santa Cruz... Saudades de pescar no Porto Afonso, de passar o dia no Carapacho.... Saudades das gentes de pele curtida pelo sol, das minhas gentes... Sinto falta disso hoje, como já não sentia à anos...

quarta-feira, maio 23, 2007

24 de Maio

Não há procissão com maior significado para a genta da Graciosa do que a procissão de 24 de Maio, entre as igrejas de Nossa Senhora de Guadalupe e Nossa Senhora da Ajuda, realizada em cumprimento de um voto feito em anos recuados da centúria de setecentos, em virtude de uma sucessão de sismos que abalaram este pequeno torrão de terra. Os homens viraram-se para a unica coisa que lhes podia valer; rogaram ao Céu para que lhes livrasse das aflições da terra... Reza a tradição que os sismos pararam quando se realizou a procissão e dizem os antigos que ainda não houve ano que ela não se realizasse. Faça sol ou faça chuva, o andor sai da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe há quase 300 anos, o que vem comprovar que três séculos, quer pelas contas dos Homens, quer pela contas divinas, não é tempo suficiente para que esqueçamos as nossas promessas. Não nos esquecemos....

sexta-feira, maio 18, 2007

Praia

Foto de António Brum Ferreira in Ilha Graciosa

Não sei se algum dia voltaremos a ver a nossa praia como se apresentava nesta fotografia tirada na década de 60 do século passado. Saudades do areal, berço da nossa história insular e onde passamos tantas e tantas indolentes tardes de verão...

quinta-feira, maio 17, 2007

Este é o nosso Desgoverno!


É com preocupação (e muita indignação) que tomo conhecimento hoje da avaria do Ilha Azul e o triste facto de ficarmos sem uma ligação marítima decente nesta altura do ano.... Então o governo contrata dois barcos para fazer a ligação inter ilhas e nenhum deles vem (por agora) á Graciosa? Não sei que espécie de (des)governo regional pode condenar uma ilha a tal (á falta de melhor palavra) ostracismo. É que promover os Açores (também conhecidos por São Miguel) no exterior não é só "doar" o dinheiro de todos nós para que se façam telenovelas de qualidade (vá lá) duvidosa, onde de vez em quando até aparecem umas imagens da lagoa das Furnas e das Sete Cidades. E então o resto? Hoteis, parques de campismo e,muito importante, acessibilidades? Não somos menos açorianos do que um Terceirense ou um Faialense, embora esta situação comprove o que eu há muito suspeitava, a nossa Graciosa já não pertence ao Grupo Central, é parte única de um quarto grupo, uma ultra-ultra-periferia esquecida (por má fé deste desgoverno, só pode...) Lá dizem os Franceses, há coisas que só se resolvem mesmo com umas barricadas... Revolto-me... envergonho-me por esses incapazes que não sabem o que é viver numa ilha pequena e só veem números onde deviam ver pessoas...

sexta-feira, maio 04, 2007

3 de Maio de 1450


Rezam as crónicas que no dia de ontem, há precisamente 557 anos, esforçados navegadores vindos da vizinha ilha Terceira desembarcaram no lugar do Carapacho e deram incício à colonização humana da ilha branca...3 de Maio de 1450 é o primeiro dia do nosso "ano 0", ou pelo menos foi nisto que acreditaram os cronistas e historiadores que ao longo dos séculos tem escrito umas linhas sobre a nossa Graciosa; é que nem esta ilha foi descoberta nesse dia ( a explicação de que é o dia em que a igreja Católica festeja a invenção da Santa Cruz é pouco convincente), nem os primeiros povoadores desembarcaram no Carapcho (a Praia, ali tão perto e com uma costa muito mais acessivel terá sido o primeiro desembarcadouro dos descobridores). Mas à falta de dados fidedignos, conte-se a lenda, a História assim o exige...


"Parece e é certo que esta ilha Graciosa se descobriu no anno de 1450 em dia da invenção da santa cruz, que se celebra em 3 de Maio do dito anno. O prijmeiro logar por onde se descobriu e entraram nelle foi o portinho do Carapacho, logar do Sul grande, e n'este logar fizeram uma casa para alfândega"

Memória citada por Canto Moniz in Ilha Graciosa, Descripção Històrica e Topographica

quarta-feira, maio 02, 2007

Lembram-se?

Rótulo de uma garrafa de vinho verdelho engarrafado pela Adega Cooperativa da Ilha Graciosa, (década de 70 do século XX)

sexta-feira, abril 27, 2007

Memórias de Pedra...



In Arquitectura Popular dos Açores

Foto tirada na Rochela em inicios dos anos 80, no lugar onde hoje existe o caminho que conduz ao porto da Praia

quinta-feira, abril 26, 2007

As impressões do viajante (Raúl Brandão, mais uma vez)

"A maior impressão com que sai destas terra metidas nos vulcões, povoados com a montanha por trás a ameaçá-los de submersão, como uma onda de pedra que vai cair na mudez, foi o medo do isolamento; sente-se a gente perdida e só para todo o sempre com o mesmo panorama restrito diante dos olhos. Uma vida inteira ao pé disto sem poder fugir senão para a morte"
Raul Brandão in Ilhas Desconhecidas (1926)

quinta-feira, abril 19, 2007

O Nome de Santa Cruz...


Santa Cruz já existiria antes de existir, isto é, antes de ter o nome que ostenta há pelo menos cinco séculos... Mas Santa Cruz porquê?... Vários autores antigos, baseando-se mais na tradição oral do que numa análise racional dos factos escreveram que a povoação, posteriormente vila, foi fundada no dia da invenção da Santa Cruz, 3 de maio do calendário litúrgico, daí ter recebido este nome... ao aceitar esta explicação facilitista caíriamos no ridículo de ter também de acreditar que todas as ilhas, cabos, enseadas que possuem nomes de santos foram efectivamente avistadas ou descobertas no dia em que se comemora esse santo. Hoje sabemos que na maior parte dos casos não é assim...

A segunda explicação, abordada pelo Padre Vital Dias no seu excelente livro "Igrejas e Ermidas da Ilha Graciosa", parece-me muito mais acertada á luz do que hoje sabemos.

Santa Cruz receberia este nome por nesta altura ser almoxarife um fidalgo chamado Nuno Pailha, natural de Vera Cruz de Marmelar, povoação do concelho de Portel, no Alentejo, da qual o orago era justamente a Santa Cruz... A nossa Santa Cruz receberia assim o nome por influência do dito Nuno Pailha. Além disto sabe-se que o donatário das ilhas, o infante D. Henrique era devoto da Santa Cruz (ou Vera Cruz), embora já tivesse falecido há algumas décadas quando a povoação recebeu este nome que hoje tão bem lhe assenta.

quarta-feira, abril 04, 2007

Salvador


"A unica diferença entre eu e um louco é que eu não sou louco"

Salvador Dali

Santa Cruz


A vila de Santa Cruz aninhada á beira mar, na sua alva pacatez lembra uma qualquer povoação do Alentejo... não fosse pelo Atlântico a espreitar por entre os telhados, pelo negro do basalto ressequido pelo sol a debruar as paredes das casas, pelas gaivotas e pelos cagarros... Mas engane-se quem pense que Santa Cruz é uma vila maritima, igual a tantas outras por estes Açores fora, a geografia ilude. Santa Cruz virou costas ao mar, o unico bairro piscatório, o Corpo Santo, é marginal. As janelas viram-se para o interior, para as terras aráveis, essas sim a maior riqueza desta ilha... e o mar, aqui tão perto, está longe.

terça-feira, março 20, 2007

Havemos de voltar

Calculo que, por algum breve período de tempo, todos os Graciosenses que existiam no mundo estiveram no mesmo sitio, o unico lugar que é deles, esta ilha. Talvez a primeira geração de pessoas que aqui habitaram...Depois ou porque a terra os castigou ou porque o mar açoitou os seus corpos, partiram, foram soprados pelas 4 cantos do mundo, sobretudo pela América. Parece então que esta ilha foi somente um ponto de passagem, uma escala entre o velho e o novo mundo, entre uma vida de miséria e o sonho de uma vida de riqueza... Tanto é que somos mais lá fora do que aqui...mas um dia ou outro acabamos sempre por voltar a estes basaltos negros aquecidos pelo sol de Junho, a este salgueiros açoitados pela nortada fria de Janeiro, á parra das uvas maduras que dão cheiro a Setembro. Um fio de saudade, mais forte do qualquer outra coisa traz-nos á Casa que um dia abandonamos pensando "Havemos de voltar".
"Adeus que me vou embora
Adeus que embora me vou
Vou daqui pra minha terra
que eu desta terra não sou"
António Variações

segunda-feira, março 12, 2007

Hartung



Gravura da ilha Graciosa, datada da 1860, da autoria do geólogo alemão Georg Hartung.

Pioneiro alemão da geologia, Georg Hartung é autor de múltiplos livros de viagens e de um conjunto de trabalhos de grande qualidade sobre as ilhas da Macaronésia, em especial sobre as Canárias e os Açores. A obra Die Azoren in ihrer ausseren erscheinung und nach ihrer geognostischen Natur, publicada em 1860 na cidade de Leipzig, contém um conjunto de ilustrações de grande interesse científico e, apesar dos 150 anos já decorridos após a sua publicação, mantém interesse para o conhecimento da geologia das ilhas.

segunda-feira, março 05, 2007

Demografias

"Eles requerem (porque necessitam totalmente) que se tirem 200 casais, ao menos, desta ilha, porque a gente que há é muita, e pouco o em que se ocupem"
António do Couto, 1709

Se em séculos idos o que preocupava os Graciosenses era o excesso de população, hoje o nosso grande medo é que num futuro não tão longíquo quanto isso, não restem mais do que dois ou três casais em toda a ilha...

sexta-feira, março 02, 2007

Eles andam aí...(ou talvez não)

Andava a espreitar umas páginas na net quando me deparo, num site cujo nome teima em não me ocorrer, esta curiosa noticia:
Cerca das 05horas e 25 minutos, foi observado no céu da ilha Graciosa um Objecto Voador Não Identificado (OVNI). Com efeito, em conformidade com inquérito levado acabo pelo Centro Meteorológico da Graciosa, o objecto deslocava-se sem ruído, iluminou a pista do aeroporto e afastou-se. Foram testemunhas oculares o guarda da PSP em serviço no referido aeroporto, um outro guarda que se encontrava nas proximidades e o dono do restaurante local. O nosso jornal contactou o posto policial de Santa Cruz, tendo-nos dito que não foi possível identificar a forma e a natureza do objecto luminoso; apenas verificaram durante segundos um clarão, que iluminou o aeroporto. O objecto apareceu a altura relativamente baixa. Mais tarde, por cerca das 8 horas, e não obstante a luz do dia, foi visto a uma distância muito grande um foco luminoso, parecendo-se com uma estrela, presumindo-se que fosse o referido objecto.

Fonte : «Jornal Correio dos Açores» de 27.02.1982

As Impressões do Viajante (Chateaubriand)

Na primavera de 1791 aportava na baía da Barra, na altura o principal porto da Graciosa, uma fragata francesa em escala para os Estados Unidos. Entre a tripulação contava-se um jovem oficial chamado François Auguste Chateaubriand, mais tarde lembrado como um dos mais ilustres homens de letras de França, haveria de cruzar-se na sua vida com nomes tão grandes como Luís XVI, George Washington ou Napoleão Bonaparte .
Chateaubriand demorou-se na ilha somente alguns dias, mas são várias as referências á Graciosa em várias das suas obras, nomeadamente as Memórias de Além Túmulo e o Ensaios sobre as Revoluções, do qual apresento um excerto:
" A ilha Graciosa onde nos encoontrávamos compôem-se de pequenos outeiros, cujos contornos arredondam-se um pouco nos cimos, se assemelham a vasos corintíos. Naquela altura estavam cobertos de campos de verde trigo que exalavam o suave aroma peculiar dos campos açorianos(...) No sopé de um monte em cujas alturas se erguia um convento viam-se avermelhados os telhados da povoação de Santa Cruz(...).
Havia algum alarme na ilha (...) ali ainda não se conhecia a bandeira tricolor francesa pelo que não se sabia se eramos piratas argelinos ou tunisinos. ao verem que eramos como os outros homens e que entendiamos a sua lingua mostraram grande alegria(...)
Metade da ilha pareceu-me, sem exagero, habitada por frades e o resto da população pareceu-me estar ligada a eles por laços muito estreitos(...)"

terça-feira, fevereiro 06, 2007

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

O Pico Timão (parte II)

Hoje em dia passa um caminho no sopé da cratera que começa junto ao Tanque no Manuel Gaspar e perde-se em vários carreiros por entre a mancha florestal do centro da ilha. Perpendicular a este caminho fica o que parte do Barro Branco e termina no cruzamento com o anterior, mesmo defronte da cratera. Há ainda um carreiro que nos leva, por fora da cratera, quase ao topo do Pico Timão e que termina umas dezenas de metro abaixo do cume. O resto da subida faz-se por uma encosta com um declive brutal, agarrados á urze mirrada e apoiados nas pequenas pedras que cobrem a parede exterior. Lá em cima um marco geodésico... e toda uma ilha a nossos pés, não é dificil descortinar no Atlântico as nossas quatro irmãs. É sempre um excelente passeio em dias de bom tempo.
Como nota final resta-me dizer que o pico Timão está a ser muito rapidamente destruído pela extracção de inertes para a construção civil, são cicatrizes profundas dificeis de sarar... Espero que um dia não sintamos a sua falta...

O Pico Timão

O pico Timão destaca-se entre os vários cones vulcânicos que formam a serra Dormida no centro da ilha, entre as freguseias de São Mateus, Luz e Guadalupe. Sobressai ao longe na paisagem e embora seja frequentemente apontado como o ponto mais alto da ilha Branca, não o é; Seja como for 398 metros é um numero grande numa ilha onde a altitude máxima é de 402 metros (na Cumeada da Caldeira).

O pico Timão, adquiriu as formas que hoje lhe conhecemos há cerca de 2000 anos (esta foi a ultima erupção que houve na ilha) e a lava que saiu da sua cratera esbeiçada derramou-se para Noroeste, contornando a serra das Fontes e veio a fazer saliência no litoral, criando o que são hoje as terras da Lagoa. Os Eucaliptos, Criptomérias, Faias e Incensos que formam o coração florestal da ilha cobrem actualmente esta corrente lávica, facilmente identificável na paisagem.

Os Homens chamaram-lhe Timão... Um timão pode ser um leme ou uma peça de uma carroça ou arado onde prende o jugo. Aqui há uns tempos folheava um velho dicionário de lingua Portuguesa datado de 1817 e soube que timão pode também ser um "roupão grande, aberto por diante", se estivermos em São Mateus ou na serra das Fontes é isso mesmo que ele nos faz lembrar, um casaco aberto á frente... (infelizmente não consegui descarregar a unica foto que tinha do pico Timão e que ilustrava bem o que acabei de dizer)

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Grandes Portugueses

Vejo e revejo a lista dos grandes Portugueses, um nome salta á vista e detenho-me naquelas letras: António de Oliveira Salazar... Não me espanta nada, como prova manifesta que o povo português tem as vistas curtas, que o ditador ganhe a votação ( Ricardo Araújo Pereira dizia a propósito que o pior que podemos fazer a alguém que nunca acreditou na democracia é, democraticamente, votarmos nele ).
A partir do momento em que alguém como Salazar foi mais votado do que Salgueiro Maia não é dificil acreditar que a revolução de Abril morreu...