domingo, março 16, 2014

casas

A casa morreu de solidão e apodreceu como um esqueleto, carcomido pela salitre e pelo caruncho, amortalhado em teias de aranha e pó de abandono. A velha chaminé de mãos postas é uma suplica e as telhas reviram-se em agonia quando puxa a nortada. A sua última habitante, minha avó, morreu numa manhã cinzenta de Maio e a casa começou a morrer nesse dia.

São as pessoas que fazem os lugares mas são os lugares que sobrevivem às pessoas. E quando o cheiro a gente desaparecer, quando a fartura de uma mesa de matança for pó, quando as vozes na cozinha e nos corredores for um distante eco, as casas também morrem. De solidão.