sábado, maio 31, 2008

Já não se fazem filmes destes...

Amarcord (1973) realizado por Fellini e escrito a quatro mãos com Tonino Guerra.
Um dos filmes mais bonitos da história do cinema.

sábado, maio 24, 2008

Monte de Nossa Senhora da Ajuda

Santa Cruz aninhou-se no sopé do Monte d´Ajuda, guardião silencioso do casario branco da vila, coroado por três capelinhas que resistem ao esquecimento.
Há algo neste quadro que me lembra a Pompeia romana, espraiando-se indolentemente nas encostas do Vesúvio, desconhecendo de todo a sua verdadeira natureza. Mas Pompeia é longe…

Santa Cruz derramou-se por sobre o magma solidificado cuspido das entranhas da terra pela boca deste pico de contornos femininos, mas rudemente masculino na sua essência vulcânica. Desde a Pesqueira até quase ao Barro Vermelho são pedras vomitadas por alguma erupção deste Monte d´Ajuda quando ainda nem havia História. No Charco da Cruz, paralelo ao caminho, para Norte, ainda se sente o declive criado por uma infernal escoada de rocha incandescente. As ervas e as árvores e depois os Homens tomaram conta da rocha viva. Do Monte que a pariu também.
Chamaram-lhe Monte das Violas, foi cultivado, abriram-se caminhos e fizeram-se muros de pedra negra. No cocuruto construíram uma igreja, depois outra e depois outra e mudaram-lhe o nome. Na caldeira que foi inferno ergueram uma praça de toiros (não há-de faltar engenho a esta gente). As árvores voltaram a vestir o monte.

Hoje é um belo passeio, desde a beira dos pauis até lá acima, 200 e poucos metros de altitude que se devem subir devagarinho, à sombra do arvoredo, descansar um pouco quando se chega á primeira cruz. Existem mais duas lá mais em cima, junto á igreja. Dizem que esta foi posta aqui para que aqueles que iam em romaria e não conseguiam chegar à igreja, pudessem rezar neste lugar. Sobe-se o caminho que falta e descortina-se uma porção da ilha. O pico Negro, lá ao fundo é ponto final. A Terra do Conde, a Brasileira, a Beira Mar e o Calhau Miúdo, mudos. Atrás de nós a Serra das Fontes, vetusta. Santa Cruz e a Barra a pique sobre os nossos pés, o Monte vai cair sobre elas. Há uns quantos carreiros, rasgados no declive e escondidos pela vegetação que convidam à deambulação. Santa Cruz não poderia ter melhor jardim, ainda que pudesse ser melhor aproveitado. Agora custa é descer…

quinta-feira, maio 22, 2008

O Pomar das Laranjeiras


Jurarei

Eterno amor

Saudades

A vida inteira

Ao nascer do sol

No pomar das laranjeiras


E se o dia

Não vier

Voltarei

De qualquer maneira

Só para te ver

No pomar das laranjeiras


É tão grande

O meu amor

Foi assim

Logo a primeira

Só será maior

No pomar das laranjeiras


Pedro Ayres de Magalhães

quarta-feira, maio 21, 2008

Descanso...


Em Fevereiro vim até aqui, perdi-me nas margens de um rio que separa as terras de Pinhel das da Mêda. Nem vivalma nas redondezas, só eu e um pequeno grupo de bons amigos. Descanso merecido, do trabalho para uns e das aulas da Faculdade para outros. Há recantos desta terra onde poucos se atrevem a chegar, por falta de vontade e porque o carro não os consegue levar lá. Mas tanto melhor para quem preza estes espaços pristinos, esquecidos por entre fragas e barrancos. Demoramo-nos aqui, encantados, um pouco cansados. Se nem o rio tem pressa, porque haveríamos nós de a ter?

domingo, maio 18, 2008

Joy Division - Love will tear us apart

Há algo em Ian Curtis que me fascina, nem sei bem o quê, mas fico magnetizado quando escuto aquela voz que parece carregar toda a dor do mundo, lamentos de uma alma atormentada que hoje se contam entre as mais bonita musicas que conheço. Bonitas e negras. Ian Curtis pôs termo à vida no dia 18 de Maio de 1980, ainda não tinha 25 anos. Morre cedo aqueles que os deuses amam. RIP Ian Curtis

Baleia


O escritor americano Hermann Melville, autor do universal Moby Dick pôs entre as personagens do malfadado Pequod do capitão Ahab um açoriano. Mellville, que por aqui passou, diz que os habitantes destas ilhas contam-se entre os melhores baleeiros do mundo, não espanta pois que os grandes navios baleeiros de Nantuckett fossem presença frequente nestas águas, não só pela presa.
Sei muito pouco acerca da caça á baleia na Graciosa. Conheço uns quantos antigos baleeiros, verdadeiros lobos do mar de mão calejadas e tez queimada, olhar salgado e de quando em vez ouço as histórias que contam. Imagino, só posso imaginar, a dureza deste trabalho e a árdua luta contra o mar e contra o cachalote. Contra tais adversários os riscos eram mais que muitos; a tragédia que ceifou a vida a uns quantos desgraçados na década de 60, já dentro da baia da Barra, é prova disso.
A caça à baleia terminou nos inícios da década de 80 quando já poucos botes restavam. Restam hoje as recordações e um património que até há pouco tempo esteve em vias de se perder e que aos poucos vai sendo recuperado, e mais importante, estimado por todos os Graciosenses.

Fortificações

As gentes que vieram povoar as ilhas atlânticas tiveram como necessidade primária a protecção contra as ameaças que vinham do mar, sob a forma de ataques concertados de nações estrangeiras ou actos esporádicos de pirataria. Foi necessário desde o início criar condições que permitissem suster e repelir estas acções belicosas, criando guarnições e milícias armadas e sobretudo infra-estruturas amuralhadas que guarnecessem os pontos mais acessíveis das costas insulares.
A ilha Graciosa teve de tirar partido da sua aparente vulnerabilidade; se por um lado os recursos humanos disponíveis eram muito mais limitados do que em ilhas de maior superfície, também é verdade que o esforço dispendido na guarda de uma costa pouco extensa, como é o caso, era menor. Ainda assim o inventário dos fortes da ilha branca ascende a um número bastante significativo, treze, o que por si só exprime a grande ameaça que pairava sobre a sua população. Em verdade são vários os escritos de época sobre ataques piratas e na tradição oral das gentes mais antigas ainda estão bem vivas as estórias dos “mouros” que de tempos a tempos desembarcavam nas costas mais ermas da ilha com o intuito de a saquear. A pirataria foi, mais do que as convulsões tectónicas ou a fúria vulcânica, um dos maiores medos de quem aqui viveu em séculos idos.