sexta-feira, novembro 28, 2008

Alto Douro


Adoro o Alto Douro, desde o primeiro dia que contemplei estes socalcos e estes montes íngremes que correm para o Rio. Adoro esta terra agreste quase tanto como a minha terra graciosa e sempre que o tempo me permite corro para lá e esqueço-me de olhar para os ponteiros do relógio, esqueço-me da televisão, do telemóvel e do computador.

Delicio-me com o cheiro a ancestralidade de um modo de vida bem diferente do que conheço, com esta aldeia antiga de granito e xisto que me acolheu, com estas gentes de carácter duro que me tratam como se fosse um deles. E depois esta paisagem… Não há fotografias que consigam captar a vasta imponência destes montes de vertentes sinuosas, que no verão parecem banhadas a ouro e no inverno perfumadas a giesta e a oliveiras prontas para a colheita. Amo este Portugal profundo e ostracizado porque Portugal é aqui.

terça-feira, novembro 25, 2008

Fotografias da Minha Graciosa - 5



A falta de tempo, essa doença crónica que nos aflige e aliena, tem-me impedido de escrever as linhas mal alinhavadas que costumo "postar" neste cantinho só meu e que me tem servido para aliviar as saudades desse cantinho só nosso, gracioso torrão de terra insular do qual tenho andado afastado.
Pudera eu ter tempo para escrever tudo o que quero escrever sobre a nossa terra... A falta de tempo consome-me. Seja como for este espaço ainda não morreu e se foi útil a alguém, de dentro ou de fora da Graciosa, alegro-me e considero cumpridos os objectivos aos quais me propus hà um par de anos quando o iniciei.
Resta-me agradecer aos que visitam o Ilha Branca... e agora regresso ao trabalho.

domingo, novembro 23, 2008

Queixa das Almas Jovens Censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Natália Correia, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"

domingo, novembro 16, 2008

Deolinda - Movimento Perpétuo Associativo

Genial...
Como dizia alguém "isto é o mais puro hino à essência do portuguesismo"... Movimento Perpétuo Associativo a hino nacinal!!!

Cruzes

Imagem: Wikipédia

Conheço pessoas mais antigas, a quem não falta fé, que ao passar por cruzamentos, levam a mão direita à fronte e fazem o sinal da cruz, proferindo entredentes poucas palavras que nunca cheguei a perceber. A este costume verdadeiramente ancestral estão também associados as cruzes e cruzeiros que em silêncio guardam cruzamentos e bifurcações dos caminhos e que traduzem o medo das gentes por esses sítios, assombrados pelo demónio, ponto de encontro de bruxas e criaturas malfazejas que importunavam quem queria chegar a casa.

Na Graciosa existem uns quantos cruzeiros, em ferro ou em pedra, mais ou menos discretos. O mais conhecido é a cruz da Barra, situada numa bifurcação, ex-líbris da vila de Santa Cruz. A cruz do Bairro, a cruz do Barro Branco, a cruz da Terra do Conde e a cruz junto à praça de toiros do Monte d´Ajuda são outros, encontrando-se todos em cruzamentos ou bifurcações. Havia que escolher bem o caminho, fosse o que nos levasse a casa, fosse o que nos conduzisse à Salvação.

terça-feira, outubro 28, 2008

Árvores

Os primeiros cronistas a escrever sobre a Graciosa referem que à data da sua descoberta esta ilha estava coberta por espesso arvoredo, mas pouco mais de dois séculos depois de ter sido povoada já se apresentava “toda descoberta e sem matos” (Frei Diogo das Chagas) em resultado dos arroteamentos que depressa se estenderam a quase toda a sua superfície. Em inícios do século XIX iniciou-se o repovoamento florestal da ilha com vista sobretudo à produção de lenha, cobrindo-se alguns picos com Faia, que era até há poucas décadas a espécie dominante até à introdução do Incenso, actualmente subespontânea em todo o arquipélago e que pelo seu rápido crescimento e proliferação veio a tomar o lugar a outras árvores. O manto arbóreo que cobre hoje algumas partes da ilha branca, além de bastante reduzido, é constituído por espécies exógenas que se vieram impôr aos endemismos açóricos. Importava pois a quem de direito plantar e zelar pelo crescimento de uma floresta verdadeiramente nossa, tal com a Madeira que encerra no cocuruto dos seus picos a vegetação primitiva que os primeiro povoadores vieram encontrar e que hoje é Património da Humanidade.

domingo, outubro 12, 2008

Forte do Corpo Santo



Memoria descriptiva


Capitulo 1.º– Descripção e historia da propriedade

Na Villa e concelho de S.ta Cruz da Ilha Graciosa, districto administrativo de Angra do Heroismo, e que constitui o commando central militar dos Açôres, e no logar chamado do Corpo Santo ha uma bahia ou enseada para a defeza da qual se construio o Forte denominado do Corpo Santo. (...) É de forma exagonal, e montava 9 boccas de fogo como se vê da respectiva planta. Tinha no seu recinto uma pequena casa, e da qual só existem as paredes.Não ha monumentos certos da sua edificação, mas parece que já existia quando em 1710 o general Couto Castello-Branco inspeccionou as fortificações açorianas, segundo o Archivo dos Açôres.(a) Pertence á freguesia e Commarca de Sta. Cruz.

Capitulo 2.º– Condicções de construcção

As muralhas que olham ao mar foram construidas de basalto e tufo argamassado, o que lhe dava garantias de alguma solidez; porem a da góla é uma parede e que tem resistido por não ser batida pelo mar e estar abrigada pelas casas que lhe ficam proximas.

Capitulo 3.º– Estado de conservação

Está em pessimo estado, faltando-lhe parte do lagêdo que guarnecia as muralhas, e o existente está solto tendo-lhe cahido a argamassa em que assentava. As muralhas interiormente estão damnificadas bastante bem como as canhoneiras. As casas só tem as paredes e estas em máo estado. O fórte ainda se conserva fechado com um máo portão.

Capitulo 4.º– Fim a que foi destinado e qual a sua actual applicação

A defender o desembarque no porto da Villa. Actualmente está desartilhado, e conserva um portão ainda que máo por haver ali um páo de bandeira para se arvorar esta quando ali passam navios de guerra, etc. Está a cargo do commandante militar da Ilha.
(...)


Quartel em Angra do Heroismo, 20 de junho de 1885.

Damião Freire de Bettencourt Pego C.el em comm.ão

terça-feira, outubro 07, 2008

O Provincianismo segundo Fernando Pessoa

"Se, por um daqueles artificíos cómodos pelos quais simplificamos a realidade com intenção de a compreender, quisermos resumir num sindroma o mal superior Português, diremos que esse mal consiste no provincianismo (...). O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela, em segui-la mimeticamente com uma subordinação inconsciente e feliz."

domingo, outubro 05, 2008

Fotografias da Minha Graciosa - 3



"Toda a ilha é quasi toda defendida pelo áspero da costa e restingas de pedra e o mar ser bravo, e por onde a costa é baixa tem parapeito para cobrir a gente, com alguns fortins ou reductos e cruzam em algumas pontas de uns a outros, para defensa das enseadas e ainda que sejam sem arte, é o que basta”
António do Couto (1709)

domingo, setembro 28, 2008

Metallica - The Day That Never Comes

Um videoclipe fantástico para uma musica fantástica...Um regresso em grande!

segunda-feira, setembro 22, 2008

Pico Negro



“O Pico Negro, fica na rocha do Noroeste, e sobre ella se eleva sobranceiro ao mar em medonho despenhadeiro. È formado de pedra queimada, e bagacina: inteiramente escalvado, e árido torna-se quasi inaccesivel pelos seus escarpados e íngremes trilhos. Conserva em seu pináculo uma eira, para onde por estreita e arriscada vereda os habitantes da ilha, hiam gosar seus charambas, e folganças na tarde do dia da Senhora d´Ajuda, depois da festa.”


Félix José da Costa - Memória Estatística e Histórica da ilha Graciosa (1845)

quinta-feira, setembro 18, 2008

Fotografias da Minha Graciosa - 2


Jimi Hendrix - Wild Thing (live) (Guitar Sacrifice)

Jimi Hendrix morreu há precisamente 38 anos... Foi o melhor guitarrista de sempre, um prodigio que soube fundir o melhor da musica americana, o blues e o rock, um icone máximo da geração peace and love, que pouco tempo depois perdeu outro dos seus simbolos, Janis Joplin. Foi o fim de um sonho...

terça-feira, setembro 16, 2008

quarta-feira, agosto 20, 2008

Vidas de Trabalho


Não é difícil imaginar o que foi a Graciosa há dois ou três séculos atrás, antes da quebra de produção que se começou a notar a partir dos anos de 1800. Esta ilha era um campo cultivado quase na sua totalidade como o atestam os relatos da época. Desde as vinhas no Pico Negro, passando pelas searas no Guadalupe e os pomares e quintais da Luz, de tudo as gentes da Graciosa cultivavam, não apenas para provir ao seu sustento mas sobretudo para a exportar. Aqui os números espantam-nos. A Graciosa produzia e exportava quase tanto como as ilhas maiores do arquipélago.

Os Graciosenses tiravam o máximo proveito destes parcos 62 Km2, não havia terra que não desse o seu proveito, até mesmo os cocurutos dos picos. Imagine-se as mãos necessárias a este árduo labor. Milhares. No século XVIII a Graciosa sofria de excesso de população, existiam mais de 10 000 almas a partilhar o quotidiano neste espaço bastante limitado. Pobres eram mais que muitos, vivendo em casas exíguas (muitas ainda cobertas com colmo ou cana), dispersas ao longo dos caminhos, penetrando no campo, acompanhando os cerrados e as vinhas. Os trabalhadores rurais que constituíam a maior parte da população da ilha possuíam um ou outro alqueire de terra de onde tiravam o seu sustento. A maior parte da terra era pertença de poucos, a quem os trabalhadores pagavam rendas, muitas vezes elevadas e com quem trabalhavam à jorna. Labutavam de sol a sol. As rixas por questões relacionadas com a posse da terra seriam relativamente frequentes numa ilha com elevada densidade populacional. Houve quem se queixasse deste clima de tensão e insegurança e pedisse que fossem tomadas medidas, de facto pouco podia ser feito e nem a tentativa de aliviar a carga populacional com a saída de uns quantos casais para as terras do Brasil surtiu algum efeito.

As festas de verão seriam esperadas com particular entusiasmo. Não é difícil imaginar a chiadeira dos carros de bois nos caminhos que conduziam á Beira Mar da Vitória ou à Luz nos dias das respectivas festas. Mais do que tudo era uma fuga á monotonia do quotidiano e a vidas cinzentas, para no dia seguinte voltar à mesma labuta.

terça-feira, agosto 19, 2008

Agradecimento mui Sentido à Atlânticoline


Obrigado atlânticoline por tão bem nos servires,
Por pores a tua frota ao serviço desta ilha,
Pelos teus barcos que navegam por entre tempestades épicas para trazerem gente à nossa terra,
Pela segurança que oferecem quando navegamos entre baixas e escolhos,
Pelos horários flexíveis,
Pela simpatia do serviço, no mar e em terra,
Nós, pouco deVOTOS, não merecemos tamanha deferência, a sério…
Porque gostamos de ser ostracizados,
Porque não precisamos aqui de visitantes,
Porque não queremos que a Terceira ou o Faial se ressintam de lhes roubarmos turistas,
Porque, em verdade, até já nos habituamos ao embargo e nos vamos geminar com Cuba…


Obrigadinho Atlânticoline por nos fazeres sentir orgulhosos de sermos Açorianos !!!


p.s – Tomara que conseguisses prestar àqueles senhores do governo o serviço que nos prestas a nós…

Arcade Fire - No Cars Go

Música para um fim de tarde de Agosto =)