terça-feira, dezembro 30, 2008

Cemitério Judaico




Desgraçado do homem que aqui jaz, comido pelo sal que o mar embravecido atira à terra em dias de mau tempo, não tendo ninguém que, no seu repouso eterno, lhe faça companhia.
Este pequeno cemitério, feito de uma só sepultura e um só morto, é fascinante. Pouco sei das suas origens, nem sei se os ossos que ali estão são mesmo de um judeu ou de um qualquer pária condenado a ser enterrado longe da gente, a quem sempre incomodou essa outra gente, judeus, mouros, diferentes.

Reza a lenda que naquela sepultura foi enterrado um marinheiro judeu, que foi atirado às rochas negras da ponta de Santa Catarina após o seu barco ter ido a pique. Há que acreditar nas lendas, há sempre um pouco de verdade nas efabulações que passaram de boca em boca ao longo de gerações.
Mas não deixa de ser chocante, à luz dos nossos princípios, que tenham enterrado gente naquele ermo, facto que até era costume em tempos recuados, por medo, por simples discriminação (conheço mais um sitio na Graciosa onde enterraram uma moura, perto do mar e longe de gente).
Curiosamente, não muito longe deste cemitério, situa-se o Pico da Forca. Não me espantava então que o desgraçado que aqui repousa tenha tombado do cadafalso e sido atirado para aquele ermo. Fosse pelo que fosse não podia ser enterrado com cristãos.

Já no século XX, ergueram em boa cantaria um resguardo à sepultura que ainda hoje se salienta entre as rochas do mar, as paredes dos cerrados e as ruínas do forte de Santa Catarina. Uma única legenda nas pedras negras, porque aqui não importam nomes; Cemitério Judaico.


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