sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Bruxas e Lambuzões

Nas matanças do porco, no fim dos jantares, enquanto se decidia os pares para a sueca ou se contavam as pedras de dominó, o meu tio, (sentava-se no mesmo canto da mesa em todas as matanças) lembrava-se de desfiar umas quantas histórias de bruxas, lambuzões e diabretes. Sentava-me sossegado a ouvi-lo, não que naquela altura tivesse interesse no rol de seres malditos que ele enumerava, mas por medo; depois de o ouvir falar do filho do Faustino que era lambuzão, da Olga que era feiticeira e dos diabretes que iam dançar para a caldeirinha, já não me apetecia ir lá p´ra fora brincar com os meus primos, pelo menos naquela noite.
Estas histórias de bruxas, a mais pura e significativa das tradições orais de um povo, estão a perder-se irremediavelmente, substituídas por uma mitologia que nunca foi nossa. Um sinal dos tempos. Se antigamente a imaginação popular compensava a falta da televisão, hoje não nos podemos dar ao luxo de nos sentarmos à mesa e ouvir uma boa história de arrepiar, já nenhum filho mal nascido é lambuzão, os diabretes já não bailam na Caldeirinha e a Maria Encantada morreu.

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