domingo, março 01, 2009

Apologia do Incenso


Caminhamos a passos largos para a Primavera, a estação mais bonita de todas.

Por esta altura já o Incenso despontou. Aquelas pequenas flores brancas que surgem com vigor por entre a folhagem dessas árvores exalam uma das mais agradáveis fragrâncias que a natureza nos pode oferecer. Nas noites amenas de Março, o cheiro doce das flores de Incenso sente-se por toda a ilha, pena é ser tão efémero e durar poucas semanas. Mas foi sempre ele que anunciou a chegada da Primavera, da renovação de tudo, do verde que assalta os cerrados e os pastos, daqueles dias mais azuis e do céu menos carregado.

Li, já não sei onde, que o Governo Regional pretende pôr em marcha um plano para erradicar as espécies invasoras do espaço insular. Aplaudo a ideia e ainda há uns posts atrás defendi a necessidade de preservamos e zelarmos pela criação de uma mata endémica, como a que os primeiros povoadores vieram encontrar quando cá desembarcaram. Infelizmente o Incenso conta-se entre essas pragas que tomaram de assalto as nossas terras, e que urge erradicar. Pessoalmente, é-me dificil imaginar os montes sem o manto verde de Incenso que os cobre, sempre foi uma árvore da qual gostei, pese o facto de saber que aqui não era o lugar dela, mas os Graciosenses muito lhe devem.

No início do século XIX a Graciosa encontrava-se quase despida de matos, a área agricultada estendia-se até aos cocurutos dos montes, não deixando qualquer espaço para uma mancha florestal relevante. A falta de lenha para os fornos de pão, levou um rico proprietário da ilha a introduzir uma espécie exógena de rápido crescimento, o Incenso, que depressa proliferou. Foi também a partir daí que a famosa industria de telha da Praia se desenvolveu.

Com a introdução do Incenso as necessidades de lenha foram supridas. Quer os fornos de pão, quer os fornos de telha da ilha, até então alimentados essencialmente pelos restos das podas de vinhas e pomares, já podiam contar com um combustível mais potente e em maior abundâcia.

Assim, muito devemos a essa praga, que veio salvar muitas bocas da míngua e ajudou de sobremodo a economia da ilha branca. Nenhuma outra árvore estará tão ligada à nossa História como o Incenso, agora condenado a desaparecer. Se assim for, depressa lhe sentiremos a falta, nem que seja do doce aroma das suas flores que brindam a chegada da Primavera.

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