quarta-feira, julho 12, 2006

Uma Ilha Seca (Parte II)

Vila de Santa Cruz, que se desenvolveu em redor dos dois pauis
que hoje são o seu ex-libris.

O medo da falta de água marcou indelevelmente o Graciosense, ironicamente (e como todo o Ilhéu) habituado a viver rodeado dela. O mais evidente indicio deste temor são os pauis de Santa Cruz, hoje ex-libris da Vila, no passado peça indispensável á sobrevivência destas gentes. A sua construção remonta a meados do século XV ou inicios do século XVI, destinando-se um a saciar a sede das pessoas, o outro dos animais. Mas por toda a ilha podemos encontrar pauis (Ribeirinha, Pontal, Fonte do Mato, Luz) que independentemente da sua época de construção, destinavam-se todos ao mesmo fim.
A cisterna ou o tanque desde logo se revelaram construções indissociáves da casa, mesmo das mais humildes, onde na cozinha nunca faltava o talhão de barro com a água fresca proveniente desses depósitos.
Embora tenhamos uma Serra das Fontes, o caudal das nascentes lá existentes é pouco significativo, como o é o das restantes nascentes: Tanque, Fonte da Rocha, Restinga, algumas delas de dificil acesso, o que tornava a tarefa de obter uma simples caneca de água uma aventura.
As secas cíclicas que assolavam a Graciosa, obrigaram por várias vezes á importação de pipas de água da vizinha ilha Terceira e mesmo a utilizar a água da lagoa da Furna do Enxofre, enchida em barris que depois eram puxados por uma das aberturas.
Na primeira metade do século XIX a nossa ilha foi assolada pela pior seca da sua história, decidindo-se então a construção de uma série de reservatórios, para onde seria canalizada a água das nascentes, posteriormente distribuída.
Hoje em dia a Graciosa está dotada de uma rede moderna de captação e distribuição de águas, que abrange toda a ilha, o que não impede que num ou noutro verão as nossas torneiras sequem...mas pelo menos já não temos de passar sede como terão passado os nossos avós, e, voltando á história do viajante do século XVII que aportou á nossa ilha para fazer a aguada, ele conta que mais fácil os habitantes lhe dispensavam três pipas de vinho do que uma de água.

1 comentário:

Anónimo disse...

Blog interessante, continue o bom trabalho...