quinta-feira, janeiro 22, 2009


A ilha já havia nascido quando, do sul, no meio de um mar mudo, as entranhas da Terra pariram a lava ígnea que, entre vapores e convulsões tectónicas, foi crescendo sobre si mesma. A ilha, virgem, tremeu de dores e gemeu, como se a queimassem com um ferro em brasa mil vezes seguidas. As cinzas lançadas até às nuvens pelo bocado de terra parido, cobriram de noite a ilha, rasgaram-lhe sulcos e despiram o verde tímido com que se vestira. E o bocado de rocha negro, monstro, lá no sul, cresceu em tamanho e em fúria. Fez-se ilha, mas depressa veio beijar as costas da ilha velha, que se despenhavam em penhascos brancos no mar. Beijou-as timidamente e logo as agarrou com força, e os dois corpos negros no meio do azul fizeram-se um. Uma ilha.

O monstro era então uma taça em fogo, vomitava rocha fundida que lhe descia pelo peito e se ia derramar, sem pressa, no mar.

Um dia, as convulsões que abalavam os pilares da ilha, cessaram. A rocha ígnea e os vapores aquietaram-se. O monstro que se tornou ilha adormeceu e os dias de silêncio e de sol voltaram a ser contados. Restava agora, do parto mais violento e primitivo, um abraço eterno, uma taça vazia e uma ferida profunda até ao ventre da Terra.

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