segunda-feira, novembro 20, 2006

A casa tradicional da ilha Graciosa (parte IV)

A “Casa de Empena” – Modelo Tradicional da Casa Rural da Ilha Graciosa

As “casa de empena” embora sejam conhecidas noutras ilhas do arquipélago, não são tão comuns como na Graciosa, constituindo uma marca formal da arquitectura desta terra.
Em primeiro lugar importa esclarecer que a denominação “casa de empena” corresponde ao modo como o edifício de dispõem em relação ao caminho e não a uma tipologia especifica, assim entre as “casa de empena” encontramos casas lineares, casa integradas e casa de cozinha perpendicular, os três grupos fundamentais de habitação rural do arquipélago.
A “casa de empena” surge sempre junto aos caminhos, desenvolvendo-se perpendicularmente a estes e virando-lhes a empena que é valorizada em detrimento da fachada principal, através da qual se faz o acesso á habitação.
As gentes da ilha apresentam 3 justificações para esta disposição:

- Os antigos construíam as casas sempre voltadas para o nascente para serem mais saudáveis
- Esconde aos estranhos a actividade familiar que em boa parte se desenvolve em frente da casa
- Sendo hábito construir-se a habitação á beira da estrada, é uma maneira de poupar espaço.

A orientação nascente da fachada principal remonta, segundo Brum Ferreira, aos primeiros tempos do povoamento, quando não havia ainda uma rede de estradas organizada, optando-se por aquela orientação que posteriormente passaria a puro hábito. Ao mesmo tempo esta disposição vem corresponder a 2 necessidades muito comuns, a de intimidade (a vida familiar desenvolvia-se no pátio á frente da fachada principal) e a de espaço (esta disposição deixa mais espaço livre junto ao caminho e permite acrescentar a habitação sem interferir com os prédios adjacentes). A estas 3 justificações, todas elas verosímeis e legítimas, pode-se acrescentar uma quarta, a necessidade que cada família tinha em justificar a posse das terras que cultivava, orientando para elas a fachada principal da habitação em detrimento do caminho.
A “casa de empena” divide-se tipologicamente em 3 grupos fundamentais que podem também ser encontrados no resto do arquipélago:

Casa de cozinha perpendicular: este tipo de casa evoluiu a partir da casa de cozinha dissociada, onde surgiam 2 blocos distintos, espacialmente separados que correspondiam á área de dormir e á cozinha, que caso se incendiasse não propagaria o fogo ao quarto. Na casa de cozinha perpendicular, sempre térrea, o bloco que antes surgia separado surge agora justaposto á área de estar e dormir, criando uma planta em L, bem demarcada por coberturas distintas.

Casa linear Neste tipo de casa a cozinha insere-se no prolongamento da habitação, correspondendo a uma única fachada onde se encontram a maior parte dos vãos, incluindo as duas portas (uma da cozinha, outra dos quartos). Na maior parte dos casos este tipo de habitação fica perpendicular ao caminho e a empena, sistematicamente virada á rua, é valorizada em detrimento da fachada principal. A nível interno esta casa é geralmente dividida em 3 espaços; a cozinha, o quarto e a loja ou casa de despejos onde pode existir um lagar e a adega.

A casa integrada, com as duas águas do telhado desiguais e o seu perfil assimétrico é o tipo de habitação que distingue mais fortemente a arquitectura da Graciosa. A sua planta compacta e quadrangular divide-se e dois pequenos corpos lineraes separados por uma parede de alvenaria. O acesso faz-se pela fachada perpendicular ao caminho. Esta casa varia bastante na sua organização interna, desde os casos mais simples em que cada bloco corresponde a uma divisão, até aos mais elaborados em que a porta da fachada principal abre para um corredor com uma divisão de cada lado e que desemboca na cozinha.

A empena, que na casa linear possuiu uma única janela e na casa integrada pode apresentar 2, apresenta-se quase sempre rebocada e caiada, com barras de cores vivas a lembrarem as casas do sul de Portugal. A fachada principal também se costuma achar bem tratada, mas é frequente deixar a outra empena da habitação e a fachada traseira em pedra seca, facto que se deve á pouca visibilidade destas paredes a quem passa no caminho.
O interior destas habitações surge sempre rebocado e o chão de terra batida ou, no caso de famílias com mais posses, sobradado.
As casa rurais geralmente tem uma estrutura interna bastante simples, limitando-se como já foi referido, a dois módulos principais; a cozinha e o quarto de estar/dormir., ora divididos por uma parede de alvenaria ora divididos por tabiques. É frequente sobre a zona de dormir existir um estrado de madeira que corta o pé direito e serve para albergar mais uma cama ou para arrumos.

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